JORNAL DO COMERCIO 18/03/2015
Rogério Severo
Que a falta de planejamento e gestão, de maneira geral, é algo recorrente e quase cultural de nosso país, já sabemos. Que existem técnicas, metodologias de gestão e programas de qualidade para empresas públicas e privadas há muito tempo, além de muitos gerentes de projetos com formação e certificações internacionais disponíveis para atuar no mercado, também sabemos. Mesmo assim, dados dos últimos anos mostram que, de 200 obras fiscalizadas, 49% apresentavam deficiências de projeto, ou seja, falta da documentação mínima de uma obra de engenharia, e 46% das obras que apresentaram problemas estavam com superfatumento ou sobrepreço.
Diante desta realidade, nos resta esperar por uma fonte de controle nacional que reconheça, de forma clara, que parte dos problemas das obras públicas no Brasil estão na falta de projetos, sejam eles básicos ou detalhados, e que é preciso que tenham qualidade e um tempo correto de execução. A fragilidade e problemas que verificamos nos projetos impactam todo ciclo de vida de um empreendimento. E, por fim, comprometem o uso, a qualidade e até mesmo a duração de qualquer obra de engenharia, sem contar os sobrecustos ou sobrepreços, que, certamente, serão decorrentes dessa etapa mal realizada. Temos sempre que lembrar que, normalmente, as obras de engenharia são projetadas para durarem 10, 15, 20 anos.
A obra de ampliação da pista do aeroporto Salgado Filho de Porto Alegre é um exemplo desta realidade. O próprio projeto de engenharia chegou a ser anunciado que seria produzido em um mês pela equipe de engenharia do Exército. Não ficou e ainda não está pronto. Diante disso, não há condições de que as demais peças técnicas tivessem sido produzidas para a produção da licitação, assim como os orçamentos do custo total a ser investido. Que dirá o início da obra.
Engenheiro e gerente de projetos
Nenhum comentário:
Postar um comentário