VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 15 de março de 2015

ANTES E DEPOIS DE 15 DE MARÇO



ZERO HORA 15 de março de 2015 | N° 18102


ROSANE OLIVEIRA



Os protestos marcados para este domingo representam um divisor de águas para o recém-iniciado segundo governo da presidente Dilma Rousseff. A partir de segunda-feira, ela terá de dar uma resposta convincente à voz das ruas. Diferentemente dos atos de junho de 2013, com suas bandeiras difusas e a exclusão dos partidos políticos pelos manifestantes, agora o alvo é Dilma e os protestos, contra a corrupção, a crise política e os problemas econômicos. O movimento tem o apoio explícito dos líderes da oposição, entre eles o candidato derrotado na eleição de outubro, Aécio Neves (PSDB-MG), que gravou um vídeo incentivando a participação de seus eleitores.

Depois de o PT menosprezar o panelaço do domingo passado, atribuindo as manifestações à insatisfação da elite, que os militantes petistas chamam de “coxinhas”, o Palácio do Planalto percebeu que não devia brincar com fogo. A própria presidente e o chefe da Casa Civil vieram a público defender a legitimidade das manifestações, desde que sem violência e sem atropelar o processo democrático.

Na segunda-feira, Dilma pronunciou a palavra que até então parecia proibida em seu círculo íntimo: impeachment. Tratou o “fora Dilma” das redes sociais pelo nome que está na Constituição. E disse que não há razão para o impeachment, opinião compartilhada por líderes da oposição, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e por ministros do Supremo Tribunal Federal, como Gilmar Mendes, o mais odiado pelo PT.

A diferença entre o discurso dos governistas e o dos adversários que não veem razão jurídica ou condições políticas para o impeachment é que a oposição acrescenta um advérbio: “ainda”.

Nunca antes a presidente enfrentou protestos em um cenário tão desfavorável. A popularidade baixou ao pior nível desde que assumiu o Planalto, em janeiro de 2011. A economia vai mal, o ajuste fiscal enfrenta resistência no próprio PT e a articulação política cambaleia, mas é a corrupção bilionária na Petrobras o maior problema de Dilma. Com as delações premiadas de protagonistas do esquema de cobrança de propina, abriu-se a caixa de Pandora. Dilma escapou da lista do procurador Rodrigo Janot, mas o PPS resolveu criar um fato político, pedindo ao STF a abertura de investigação contra ela.

Ícone da extrema direita, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) apressou-se em protocolar um pedido de impeachment que não tem como prosperar porque os próprios colegas não levam o parlamentar a sério. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a quem cabe comandar os cordões do processo, reconhece que é prematuro falar em impeachment. Também investigado na Lava-Jato, Cunha, ao contrário do tosco Bolsonaro, é um político cerebral. Sabe que, mesmo sendo o vice Michel Temer o herdeiro natural do cargo em caso de impedimento de Dilma, o melhor para o PMDB – pelo menos no momento – é ser credor da presidente.

Por coincidência, neste domingo completam-se 25 anos da posse de Fernando Collor de Mello no Planalto. Hoje ele é senador, integra a base de apoio do governo Dilma e está na lista dos políticos que serão investigados na Lava-Jato com autorização do Supremo Tribunal Federal.

No momento em que milhares de pessoas se organizam para ir às ruas neste domingo, é inevitável a comparação com o que aconteceu em 1992, mais precisamente no 7 de Setembro, um tempo em que não existia Facebook, Twitter ou WhatsApp, a telefonia celular engatinhava e o então presidente Fernando Collor enfrentava uma CPI desencadeada por denúncias do próprio irmão.

Sabendo que os jovens preparavam manifestações contra ele, Collor foi à TV pedir à população que se vestisse de verde e amarelo. Uma multidão respondeu à convocação vestindo preto. Eleito por um partido nanico, o PRN, sem apoio no Congresso e com as ruas contra ele, Collor perdeu o mandato e entrou para a História como primeiro presidente afastado por impeachment.

Alguma coisa Dilma e o PT aprenderam com Collor. Em vez de medir forças com os manifestantes que querem tirá-la do poder ou fazer seu governo sangrar, a presidente optou por tratar o protesto como um ato democrático e deixar a estratégia de resistência com os aliados. Em Porto Alegre, simpatizantes do governo programaram para a manhã deste domingo um ato satírico, batizado de “Coxinhaço”, durante o qual pretendem assar coxas de galinha em pleno Parque da Redenção, mas, para evitar confronto, a orientação é deixar o local antes da chegada dos manifestantes anti-Dilma, que virão do Parque Moinhos de Vento.

Capitaneados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), movimentos sociais simpáticos ao governo organizaram atos em defesa da Petrobras na sexta-feira. Conseguiram ocupar o espaço nobre dos noticiários da tarde à noite e capas dos jornais de sábado com imagens de manifestantes vestidos de vermelho na Avenida Paulista (São Paulo), na Cinelândia (Rio), na Esplanada dos Ministérios (Brasília) e em outras capitais.

A oposição classificou as manifestações como um fracasso, a CUT divulgou números de participantes divergentes dos cálculos da Polícia Militar, mas o governo celebrou o fato de não ter ocorrido sequer um incidente. Mais do que isso, o governo mostrou que não está sozinho. A convocação do “exército” de João Pedro Stédile, líder do MST, feita pelo ex-presidente Lula, funcionou.

Na véspera, a pretexto de defender a Petrobras e a reforma agrária, militantes da Via Campesina marcharam em Porto Alegre numa manifestação com mulheres e crianças. Stédile se desdobrou: quinta no Rio Grande do Sul, sexta no Rio de Janeiro.

Em Porto Alegre, o principal dirigente do MST apelou a Dilma para que “não se acovarde diante da pressão de setores que querem tomar o poder no grito”, comparou a situação política atual ao período da Legalidade, quando João Goulart foi impedido de assumir a Presidência, e prometeu “botar o povo na rua” depois das manifestações deste domingo.

– Engraxem as botas e as chuteiras, que o jogo só está começando. Quem não tiver barraca compre uma. Compre um tênis. Estamos aqui no vestiário, só nos preparando – avisou.

Stédile pode estar apenas fazendo bravata, mas ficou claro que a estratégia do governo para enfrentar a nau dos descontentes, na qual embarcou boa parte da classe média, é uma aliança com os movimentos sociais. A dificuldade é equilibrar as demandas dos sindicatos com o ajuste fiscal iniciado pelo ministro Joaquim Levy e que a esquerda rejeita por considerar neoliberal.

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