ZH 07/10/2014 | 11h06
O que a supervotação de Jair Bolsonaro e Marco Feliciano revela sobre o Brasil. Políticos conservadores foram campeões de votos, mas defensores de assuntos como casamento gay e aborto também se fortaleceram
por Débora Ely
Jair Bolsonaro (PP) foi eleito o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro nas eleições 2014 e Marco Feliciano (PSC), o terceiro candidato a deputado federal mais votado em São Paulo Foto: Lucio Bernardo Jr.,Câmara dos Deputados / Divulgação
Duas das figuras mais polêmicas dos últimos quatro anos no Congresso Nacional somaram, juntas, pouco mais de 860 mil votos: Jair Bolsonaro (PP), campeão de votos no Rio de Janeiro, e Marco Feliciano (PSC), em terceiro lugar em São Paulo. A título de comparação, é como se oito em cada 10 eleitores de Porto Alegre votassem em um ou outro.
À primeira vista, campeões de votos conservadores sugerem que as urnas se posicionaram contra temas como regulamentação do casamento gay, do aborto e legalização das drogas. Mas o avanço de figuras conhecidas pela defesa dessas propostas também foi significativo: Jean Wyllys, por exemplo, aumentou em 10 vezes sua votação, obtendo 144 mil eleitores.
Ou seja: o debate esquentou.
— No fundo, esse embate entre conservadores e ativistas LGBT dá votos para os dois lados. Chama a atenção que Feliciano e Bolsonaro foram campeões de voto, mas também foram os dois que mais tiveram exposição na mídia. Há um segmento conservador que, ao vê-los combatendo figuras mais progressistas, se identifica — diz o cientista político e professor da PUC-Rio Ricardo Ismael.
Coordenador do Centro Brasileiro em Pesquisas em Democracia da PUCRS, Rafael Madeira aponta que tanto defensores de bandeiras minoritárias e polêmicas, quanto perfis mais conservadores usam das redes sociais para difundir suas ideias. Para o cientista político, a rejeição aos candidatos é proporcional à polêmica dos discursos que defendem — e quanto mais tradicional a posição, mais fácil a aceitação.
— O Bolsonaro reflete uma fatia da sociedade brasileira que ainda é bastante conservadora e é uma das figuras que está conseguindo transformar isso em capital político, mas chama a atenção que também existe espaço para um discurso mais progressista. Um caso é a eleição de Manuela D'Ávila no Estado. Existe espaço para os dois discursos, mas, se formos medir em termos de eleitorado, o conservador é muito maior — avalia.
Apesar de relativizar o poder das redes sociais, o doutor em Comunicação Política e professor da Unisinos Sérgio Trein aposta que as urnas deram um recado: o de que a sociedade se sentiu desconfortável com as manifestações do ano passado.
— A resposta é de que os temas polêmicos ainda incomodam muito — diz.
O que a supervotação de Jair Bolsonaro e Marco Feliciano revela sobre o Brasil. Políticos conservadores foram campeões de votos, mas defensores de assuntos como casamento gay e aborto também se fortaleceram
por Débora Ely
Jair Bolsonaro (PP) foi eleito o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro nas eleições 2014 e Marco Feliciano (PSC), o terceiro candidato a deputado federal mais votado em São Paulo Foto: Lucio Bernardo Jr.,Câmara dos Deputados / Divulgação
Duas das figuras mais polêmicas dos últimos quatro anos no Congresso Nacional somaram, juntas, pouco mais de 860 mil votos: Jair Bolsonaro (PP), campeão de votos no Rio de Janeiro, e Marco Feliciano (PSC), em terceiro lugar em São Paulo. A título de comparação, é como se oito em cada 10 eleitores de Porto Alegre votassem em um ou outro.
À primeira vista, campeões de votos conservadores sugerem que as urnas se posicionaram contra temas como regulamentação do casamento gay, do aborto e legalização das drogas. Mas o avanço de figuras conhecidas pela defesa dessas propostas também foi significativo: Jean Wyllys, por exemplo, aumentou em 10 vezes sua votação, obtendo 144 mil eleitores.
Ou seja: o debate esquentou.
— No fundo, esse embate entre conservadores e ativistas LGBT dá votos para os dois lados. Chama a atenção que Feliciano e Bolsonaro foram campeões de voto, mas também foram os dois que mais tiveram exposição na mídia. Há um segmento conservador que, ao vê-los combatendo figuras mais progressistas, se identifica — diz o cientista político e professor da PUC-Rio Ricardo Ismael.
Coordenador do Centro Brasileiro em Pesquisas em Democracia da PUCRS, Rafael Madeira aponta que tanto defensores de bandeiras minoritárias e polêmicas, quanto perfis mais conservadores usam das redes sociais para difundir suas ideias. Para o cientista político, a rejeição aos candidatos é proporcional à polêmica dos discursos que defendem — e quanto mais tradicional a posição, mais fácil a aceitação.
— O Bolsonaro reflete uma fatia da sociedade brasileira que ainda é bastante conservadora e é uma das figuras que está conseguindo transformar isso em capital político, mas chama a atenção que também existe espaço para um discurso mais progressista. Um caso é a eleição de Manuela D'Ávila no Estado. Existe espaço para os dois discursos, mas, se formos medir em termos de eleitorado, o conservador é muito maior — avalia.
Apesar de relativizar o poder das redes sociais, o doutor em Comunicação Política e professor da Unisinos Sérgio Trein aposta que as urnas deram um recado: o de que a sociedade se sentiu desconfortável com as manifestações do ano passado.
— A resposta é de que os temas polêmicos ainda incomodam muito — diz.
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