VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

INSTRUMENTO ANTICORRUPÇÃO

ZERO HORA 18 de julho de 2012 | N° 17134

EDITORIAL


Repetindo célebre dito do deputado Ulysses Guimarães (1916-1992), o ex-presidente da Câmara dos Deputados Ibsen Pinheiro costuma afirmar que comissão parlamentar de inquérito é instrumento de minoria, ou seja, de oposição. Sustentava o veterano político paulista que, normalmente reduzidas em face das forças governistas, as oposições buscam na investigação parlamentar um instrumento para obrigar governos a se abrir ao escrutínio público. A atual CPI do Cachoeira, que já provocou a cassação de um senador, Demóstenes Torres (ex-DEM/GO, sem partido), é um desmentido cabal à Lei de Ulysses: foi proposta e levada a cabo pelos governistas como forma de atingir importantes nomes da oposição. Esse rasteiro jogo de interesses, seja em comissões de inquérito ou em conselhos de ética e decoro, cobre de descrédito as investigações parlamentares em nosso país. Depoimentos de suspeitos poderosos, outrora acompanhados pela população diante das TVs como jogos de Copa do Mundo, provocam hoje um misto de indiferença e ojeriza. Acusados de ontem tornam-se acusadores de hoje e vice-versa, numa ciranda que guarda pouca ou nenhuma relação com os problemas do cidadão comum.

Feitas essas ponderações, não há como negar que a CPI que amanhã fará sua primeira prestação de contas à população transformou-se, independentemente das intenções de seus protagonistas, num fator, no mínimo, inibidor da corrupção. Contribuiu a comissão para dar visibilidade às investigações da Polícia Federal a respeito de vasta rede criminosa com ramificações nas altas esferas da União, de Estados e municípios. Lançou luz sobre as ligações perigosas de políticos de oposição e de situação com um barão da contravenção e deste com empresas titulares de vultosos contratos com o setor público. É pouco provável que a cassação de um senador suspeito arrefeça o ânimo investigativo da CPI, cujos membros não ousarão correr o risco da ignomínia perante a opinião pública ao encerrar os trabalhos com as apurações a meio caminho. Cabe dar à CPI, portanto, um voto de confiança a fim de que possa revelar os meandros da trama em análise, possibilitando que os culpados recebam punição exemplar na forma da lei.

Faz-se urgente, entre outras providências, a reconvocação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), suspeito, em claro e bom português, de receber propina da construtora Delta. Da mesma forma, é necessário aprofundar o exame de casos como os do prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), filmado ao negociar benesses com Cachoeira, e do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), que mantinha em seu gabinete elementos ligados ao bicheiro e à empreiteira. O esvaziamento ou a paralisia da CPI, neste momento, só podem interessar àqueles que gostariam de ver os comandantes do esquema ora sob investigação respirarem aliviados e voltarem aos negócios de sempre. Não se permita que tão nefasta rede possa passar incólume pelo crivo daquele que é um dos poderes elementares da República.

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