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quarta-feira, 18 de julho de 2012

MAX WEBER E A ASSEMBLEIA GAÚCHA


ZERO HORA 18 de julho de 2012 | N° 17134. ARTIGOS


LEANDRO FONTOURA, jornalista


Nossa Assembleia Legislativa daria um nó na cabeça do sociólogo Max Weber. Não apenas porque ele tenha vivido um século atrás e acompanhado a política e o parlamento alemão de então. Mas porque teria dificuldade de entender o comportamento dos políticos locais.

Weber, que não gostava do marxismo, escreveu um dos maiores elogios à burocracia. Não se assuste. Em um contexto no qual os Estados ainda estavam em formação, o sistema burocrático de administração lhe pareceu a melhor forma de organização, por ser racional e previsível. Ou seja, por meio de um conjunto de regras fixas e conhecidas, uma engrenagem burocrática era capaz de fazer o poder público atingir fins definidos previamente. O poder seria exercido de forma impessoal, prognosticada e universal.

Weber acreditava em um processo de racionalização inevitável. Política, sociedade e economia (capitalista) caminhariam na direção dela. Seu trabalho inspirou Raymundo Faoro, um gaúcho que escreveu uma das mais importantes interpretações do Brasil. Mas Weber não se tornou um dos maiores sociólogos de todos os tempos sem antes desarmar uma armadilha sorrateira. Consciente dos limites da burocracia – cega pela obediência e pela hierarquia e cada vez mais voltada aos próprios interesses –, deixou claro que ela deveria ser controlada pela política. Caberia aos políticos liderar e conduzir os rumos das sociedades. Escreveu um livro inteiro, Parlamento e Governo na Alemanha Reordenada, para dizer isso.

Mas, na Assembleia do Rio Grande do Sul, os políticos têm renunciado a este papel. Isso aparece não nos discursos de campanha, vazios e previamente calculados, mas nos momentos de crise. Nos últimos anos, deputados tentaram fugir à responsabilidade sobre escândalos de corrupção e má administração na Casa alegando desconhecer o que se passava na sala ao lado e afirmando estarem concentrados em questões maiores. Nem a compra de pó de café ou selos postais resistiu a esse tipo de atitude sem desvios.

Um presidente da Assembleia chegou a dizer que não discutiria o gasto com “papel higiênico” no prédio do Legislativo, como se seu mandato fosse superior a temas administrativos. Na semana passada, outro parlamentar afirmou ser muito “difícil” controlar o ponto de seus funcionários. São apenas 15, mas o deputado ainda tem de explicar como um deles recebe R$ 24,3 mil para atender telefone sem dar a mínima para o cumprimento do expediente.

No mesmo livro em que diminui o papel dos técnicos e dos burocratas e concede aos políticos a tarefa de conduzir as sociedades, Weber diz que esses líderes dirigentes nascem nos parlamentos. É da arena legislativa que vão brotar prefeitos, secretários de Estado, governadores, diretores de estatais, ministros, presidentes e até grandes estadistas. Isso não mudou de 1918, data da obra, para cá – nem na Alemanha, nem no Brasil. Para isso, esses políticos têm de estar dispostos a assumir a responsabilidade sobre a administração pública como um todo. Ou você votaria em um candidato a prefeito que alega não ter controle sobre pouco mais de uma dúzia de funcionários?

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