REVISTA ISTO É N° Edição: 2348 | 21.Nov.14 -
Nos anos em que José Sérgio Gabrielli esteve à frente da Petrobras, as sete empreiteiras investigadas na Lava Jato fecharam R$ 42 bilhões em contratos suspeitos de corrupção
Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br)
Quando, em fevereiro de 2012, Graça Foster assumiu a presidência da Petrobras, analistas do mercado de energia diziam que ela havia herdado do antecessor, José Sérgio Gabrielli, um campo minado. Naquele momento, porém, o cenário era completamente distinto do atual. A companhia comemorava descobertas de jazidas gigantes de pré-sal e desfrutava um clima de lua de mel com a sociedade. Com isso, o alerta dos críticos soou como um exacerbado pessimismo e foi deixado de lado. As apurações da Operação Lava Jato revelam agora que o discurso fatalista de 2012 tinha fundamento. Nos seis anos e meio em que Gabrielli esteve à frente da estatal, o “clube” das sete empreiteiras investigadas fechou R$ 42 bilhões dos R$ 59 bilhões em contratos suspeitos de irrigar esquemas de corrupção, de acordo com a Polícia Federal. O mesmo período, de 2005 a 2012, compreendeu a fase de ascensão dos ex-diretores Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Renato Duque, personagens centrais do esquema.
FOGO AMIGO?
Petistas ligados a Gabrielli dizem que as denúncias contra ele
surgiram para tirar a atual presidente da Petrobras,
Graça Foster, do foco do escândalo
Não por acaso, a devassa nas contas da Petrobras já começa a produzir efeitos retroativos. Na última sexta-feira 14, o Conselho de Administração da Petrobras pediu abertura de uma ação civil contra Gabrielli e outros 15 funcionários. Isso porque investigações internas realizadas na própria estatal concluíram que Gabrielli participou das irregularidades e foi culpado pelo prejuízo com a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, em 2006. A aquisição inadequada do complexo fazia parte de um plano ambicioso de expansão das atividades da Petrobras adotado pelo petista.
Durante sua gestão, o ex-presidente da estatal comandou investimentos bilionários no que chamou de “maior plano de negócios do mundo”. Sua intenção era fazer a empresa aplicar US$ 224 bilhões em recursos até 2020. A política mais agressiva veio acompanhada da necessidade de uma salvaguarda política. Foi então que os partidos da base ampliaram a influência sobre as diretorias comandadas por seus indicados. Na ocasião, Gabrielli chamou de “suicídio a longo prazo” a não adesão a políticas de ampliação do número de refinarias. Assim nasceram o projeto da Abreu e Lima, em Pernambuco, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e a Premium I e II no Maranhão e Ceará, empreendimentos erguidos pelas empreiteiras flagradas nas investigações da Lava Jato. Os locais onde as refinarias seriam erguidas só foram definidos depois de intensas pressões políticas. Inicialmente, os projetos foram apresentados com custos e dimensões subestimados. Depois, também fruto de negociação política, vieram os aditivos, que são pagos até hoje.
O processo de politização da Petrobras rendeu dividendos ao ex-presidente da estatal. No afã de ampliar investimentos e atividades no exterior, Gabrielli emplacou, até mesmo, um primo na Petrobras América. José Orlando Azevedo, funcionário de carreira da companhia, ficou quatro anos no cargo e também atuou no episódio da compra de Pasadena, mas foi demitido quando Graça Foster assumiu a presidência.
O primo de Gabrielli não foi o único apeado do cargo no início da gestão de Graça Foster. O delator do esquema, Paulo Roberto Costa, e os ex-diretores Renato Duque e Nestor Cerveró detidos na última semana pela PF deixaram a estatal em meio à renovação do comando. Antes das alterações, Gabrielli chegou a apostar que a gestão de Graça Foster seria uma extensão da sua. “Ela não é nova presidente, está na diretoria há quatro anos, portanto, faz parte dessa construção”, afirmou em entrevista a órgão especializado no mercado de energia, em 2012. O único diretor remanescente da gestão de Gabrielli na estatal é Almir Barbassa.
Na semana passada, porém, a própria Graça Foster foi tragada para o meio da crise ao admitir que já tinha, desde meados do ano, a informação de que a holandesa SBM Offshore fez pagamento de propina a “empregado ou ex-empregado da Petrobras”. Até então, a Petrobras não havia comunicado oficialmente que tinha recebido tal informação. O que vinha sendo dito era que uma comissão de sindicância criada em fevereiro, quando as denúncias se tornaram públicas, havia feito uma investigação interna, durante 45 dias, mas nada havia sido descoberto.
Por ora, no entanto, Dilma não cogita uma nova troca no comando da estatal. Para aliados de Gabrielli no PT, as denúncias surgidas contra ele nos últimos dias seriam uma tentativa de tirar Graça Foster do foco das denúncias. Em paralelo, pessoas próximas ao ex-presidente da Petrobras afirmam que o partido precisa se cuidar, pois, se ele “explodir”, “a situação pode ficar ainda pior”.
Fotos: Givaldo Barbosa/Ag. O Globo; Julio Bittencourt/Folhapress
Nos anos em que José Sérgio Gabrielli esteve à frente da Petrobras, as sete empreiteiras investigadas na Lava Jato fecharam R$ 42 bilhões em contratos suspeitos de corrupção
Josie Jeronimo (josie@istoe.com.br)
Quando, em fevereiro de 2012, Graça Foster assumiu a presidência da Petrobras, analistas do mercado de energia diziam que ela havia herdado do antecessor, José Sérgio Gabrielli, um campo minado. Naquele momento, porém, o cenário era completamente distinto do atual. A companhia comemorava descobertas de jazidas gigantes de pré-sal e desfrutava um clima de lua de mel com a sociedade. Com isso, o alerta dos críticos soou como um exacerbado pessimismo e foi deixado de lado. As apurações da Operação Lava Jato revelam agora que o discurso fatalista de 2012 tinha fundamento. Nos seis anos e meio em que Gabrielli esteve à frente da estatal, o “clube” das sete empreiteiras investigadas fechou R$ 42 bilhões dos R$ 59 bilhões em contratos suspeitos de irrigar esquemas de corrupção, de acordo com a Polícia Federal. O mesmo período, de 2005 a 2012, compreendeu a fase de ascensão dos ex-diretores Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Renato Duque, personagens centrais do esquema.
FOGO AMIGO?
Petistas ligados a Gabrielli dizem que as denúncias contra ele
surgiram para tirar a atual presidente da Petrobras,
Graça Foster, do foco do escândalo
Não por acaso, a devassa nas contas da Petrobras já começa a produzir efeitos retroativos. Na última sexta-feira 14, o Conselho de Administração da Petrobras pediu abertura de uma ação civil contra Gabrielli e outros 15 funcionários. Isso porque investigações internas realizadas na própria estatal concluíram que Gabrielli participou das irregularidades e foi culpado pelo prejuízo com a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, em 2006. A aquisição inadequada do complexo fazia parte de um plano ambicioso de expansão das atividades da Petrobras adotado pelo petista.
Durante sua gestão, o ex-presidente da estatal comandou investimentos bilionários no que chamou de “maior plano de negócios do mundo”. Sua intenção era fazer a empresa aplicar US$ 224 bilhões em recursos até 2020. A política mais agressiva veio acompanhada da necessidade de uma salvaguarda política. Foi então que os partidos da base ampliaram a influência sobre as diretorias comandadas por seus indicados. Na ocasião, Gabrielli chamou de “suicídio a longo prazo” a não adesão a políticas de ampliação do número de refinarias. Assim nasceram o projeto da Abreu e Lima, em Pernambuco, o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e a Premium I e II no Maranhão e Ceará, empreendimentos erguidos pelas empreiteiras flagradas nas investigações da Lava Jato. Os locais onde as refinarias seriam erguidas só foram definidos depois de intensas pressões políticas. Inicialmente, os projetos foram apresentados com custos e dimensões subestimados. Depois, também fruto de negociação política, vieram os aditivos, que são pagos até hoje.
O processo de politização da Petrobras rendeu dividendos ao ex-presidente da estatal. No afã de ampliar investimentos e atividades no exterior, Gabrielli emplacou, até mesmo, um primo na Petrobras América. José Orlando Azevedo, funcionário de carreira da companhia, ficou quatro anos no cargo e também atuou no episódio da compra de Pasadena, mas foi demitido quando Graça Foster assumiu a presidência.
O primo de Gabrielli não foi o único apeado do cargo no início da gestão de Graça Foster. O delator do esquema, Paulo Roberto Costa, e os ex-diretores Renato Duque e Nestor Cerveró detidos na última semana pela PF deixaram a estatal em meio à renovação do comando. Antes das alterações, Gabrielli chegou a apostar que a gestão de Graça Foster seria uma extensão da sua. “Ela não é nova presidente, está na diretoria há quatro anos, portanto, faz parte dessa construção”, afirmou em entrevista a órgão especializado no mercado de energia, em 2012. O único diretor remanescente da gestão de Gabrielli na estatal é Almir Barbassa.
Na semana passada, porém, a própria Graça Foster foi tragada para o meio da crise ao admitir que já tinha, desde meados do ano, a informação de que a holandesa SBM Offshore fez pagamento de propina a “empregado ou ex-empregado da Petrobras”. Até então, a Petrobras não havia comunicado oficialmente que tinha recebido tal informação. O que vinha sendo dito era que uma comissão de sindicância criada em fevereiro, quando as denúncias se tornaram públicas, havia feito uma investigação interna, durante 45 dias, mas nada havia sido descoberto.
Por ora, no entanto, Dilma não cogita uma nova troca no comando da estatal. Para aliados de Gabrielli no PT, as denúncias surgidas contra ele nos últimos dias seriam uma tentativa de tirar Graça Foster do foco das denúncias. Em paralelo, pessoas próximas ao ex-presidente da Petrobras afirmam que o partido precisa se cuidar, pois, se ele “explodir”, “a situação pode ficar ainda pior”.
Fotos: Givaldo Barbosa/Ag. O Globo; Julio Bittencourt/Folhapress
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