REVISTA ISTO É N° Edição: 2346 | 07.Nov.14
Sigilos bancários obtidos por ISTOÉ mostram que o empresário Adir Assad, operador flagrado no escândalo da Delta, recebeu dinheiro do esquema Petrobras, através do doleiro Alberto Youssef, para repassar a políticos
Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br)
Há poucas semanas, a Polícia Federal recebeu um arquivo digital com a quebra do sigilo bancário das empresas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. São milhares de transações realizadas nos últimos oito anos: depósitos, transferências e saques de bilhões de reais oriundos de contratos de fornecedores da Petrobras – dinheiro que saiu dos cofres da estatal para abastecer o esquema de corrupção que pagou deputados, senadores, governadores e até ministros. Ao analisar detalhadamente esse material, os investigadores encontraram um personagem misterioso que pode ser a chave para comprovar a distribuição de propina a políticos de diferentes legendas. Esse personagem chama-se Adir Assad, empresário libanês apontado como intermediário de propinas de outro escândalo recente, envolvendo fraudes em contratos da empreiteira Delta com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
INTERMEDIÁRIO
O empresário Adir Assad surge como o elo entre o doleiro e os políticos
Em 2012, durante a CPI que investigou o caso Delta, o empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira, delatou a ação de Assad. Disse que o libanês era quem distribuía aos parlamentares o dinheiro desviado pela Delta e por outras grandes empreiteiras que mantinham contratos com o DNIT. Cavendish entregou o nome de 19 empresas de fachada usadas por Assad para sacar os recursos. O empresário chegou a ser convocado a depor, mas não disse nada – protegido por um habeas corpus. A oposição também tentou quebrar o sigilo de suas empresas, mas a maioria governista na CPI rejeitou o requerimento.
Agora, Assad volta ao centro das investigações. Nos sigilos bancários do esquema Youssef, a Polícia Federal descobriu ao menos cinco das 19 empresas fantasmas de Assad: Soterra Terraplenagem, Legend Engenheiros Associados, JSM Engenharia, Rock Star Marketing e SM Terraplanagem. Entre 2009 e 2011, elas receberam mais de R$ 65 milhões em recursos desviados de contratos da Petrobras com a empreiteira Toyo-Setal. O dinheiro escorreu por meio de uma filiada, a Tipuana Participações Ltda., registrada em nome de Augusto Ribeiro de Mendonça, que há poucos dias firmou com o Ministério Público Federal um acordo de delação premiada. Mendonça é o segundo executivo do grupo Toyo a assinar um termo de colaboração. O primeiro foi Júlio Camargo, cujas revelações têm surpreendido os procuradores.
A força-tarefa da Operação Lava Jato, que investiga o esquema montado por Youssef e Paulo Roberto Costa, quer saber agora quem foram os destinatários finais do dinheiro recebido por Assad. Chama a atenção dos procuradores, por exemplo, três depósitos idênticos de R$ 783.546,93 feitos simultaneamente, no dia 18 de dezembro de 2009, nas contas das empresas Rigidez, Legend e DFS Participações. Ocorre que o dia 18 de dezembro marcou o encerramento da CPI que investigou a Petrobras em 2009. A investigação sobre a estatal terminou como tantas outras, sem qualquer punição. A PF suspeita que o dinheiro repassado pela Tipuana serviu para selar o acordo para pôr um fim na CPI. Nas semanas que antecederam essa operação, a Legend, de Assad, recebeu outros R$ 12 milhões. A PF já sabe que a empreiteira Rigidez, que recebeu no total R$ 62 milhões da Tipuana, pertence ao doleiro Alberto Youssef. Já a DFS está registrada em nome do próprio Augusto de Mendonça.
Na semana passada, o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), pediu a quebra de sigilo de uma das empresas de Assad, a Rock Star Marketing. Até então, Bueno só tinha conhecimento de que a Rock Star havia feito um depósito de R$ 1,2 milhão na conta da MO Consultoria, outra das empresas de Youssef. Com as novas evidências, Bueno vai ampliar seu pedido para todo rol de empresas ligadas a Assad. Para a Polícia Federal, é necessário quebrar também o sigilo bancário de todas as empresas ligadas a Augusto de Mendonça. No histórico de operações da Tipuana, os investigadores identificaram inúmeras transferências para empresas em nome de familiares de Mendonça e sócios, num montante superior a R$ 100 milhões. Desse total, R$ 18,7 milhões foram para a Yellowwood Consultoria.
NA MIRA DA PF
Compra de empreendimento pelo deputado Celso Russomano
e pela filha do deputado Eduardo Gomes será investigada
Em 2012, a Yellowwood abriu em Brasília uma filial do Bar do Alemão, situado às margens do Lago Paranoá, região nobre de Brasília. O empreendimento ganhou notoriedade por reunir em seu quadro societário o deputado federal Celso Russomanno (PRB-SP) e a filha do deputado federal licenciado Eduardo Gomes (SD-TO), hoje secretário de Esportes do Tocantins. Tanto Russomanno como Gomes tiveram dificuldades para explicar como conseguiram R$ 1 milhão cada um para participar do negócio. O deputado paulista disse que pagaria sua parte trabalhando na administração do bar. Seu colega do Tocantins alegou que recorreu a empréstimos e economias. Agora, se sabe que a Yellowwood pertence ao executivo da Toyo-Setal que mantém relações com Assad e Youssef.
Para a PF, Russomanno e Gomes terão de explicar melhor essa sociedade e a relação com Adir Assad. Há dois anos, quando veio à tona o caso de corrupção envolvendo a Delta, Russomanno foi flagrado num convescote com o empresário libanês na casa de Marcello Abbud. Os dois teriam sido apresentados por Paulo Maluf, que teve negócios com Assad no passado. ISTOÉ tentou contato com ambos, mas não obteve retorno. O empresário libanês tem muito a dizer, resta saber se desta vez a Justiça lhe garantirá o silêncio.
Foto: André Dusek/ Estadão Conteúdo
Sigilos bancários obtidos por ISTOÉ mostram que o empresário Adir Assad, operador flagrado no escândalo da Delta, recebeu dinheiro do esquema Petrobras, através do doleiro Alberto Youssef, para repassar a políticos
Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br)
Há poucas semanas, a Polícia Federal recebeu um arquivo digital com a quebra do sigilo bancário das empresas do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. São milhares de transações realizadas nos últimos oito anos: depósitos, transferências e saques de bilhões de reais oriundos de contratos de fornecedores da Petrobras – dinheiro que saiu dos cofres da estatal para abastecer o esquema de corrupção que pagou deputados, senadores, governadores e até ministros. Ao analisar detalhadamente esse material, os investigadores encontraram um personagem misterioso que pode ser a chave para comprovar a distribuição de propina a políticos de diferentes legendas. Esse personagem chama-se Adir Assad, empresário libanês apontado como intermediário de propinas de outro escândalo recente, envolvendo fraudes em contratos da empreiteira Delta com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
INTERMEDIÁRIO
O empresário Adir Assad surge como o elo entre o doleiro e os políticos
Em 2012, durante a CPI que investigou o caso Delta, o empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira, delatou a ação de Assad. Disse que o libanês era quem distribuía aos parlamentares o dinheiro desviado pela Delta e por outras grandes empreiteiras que mantinham contratos com o DNIT. Cavendish entregou o nome de 19 empresas de fachada usadas por Assad para sacar os recursos. O empresário chegou a ser convocado a depor, mas não disse nada – protegido por um habeas corpus. A oposição também tentou quebrar o sigilo de suas empresas, mas a maioria governista na CPI rejeitou o requerimento.
Agora, Assad volta ao centro das investigações. Nos sigilos bancários do esquema Youssef, a Polícia Federal descobriu ao menos cinco das 19 empresas fantasmas de Assad: Soterra Terraplenagem, Legend Engenheiros Associados, JSM Engenharia, Rock Star Marketing e SM Terraplanagem. Entre 2009 e 2011, elas receberam mais de R$ 65 milhões em recursos desviados de contratos da Petrobras com a empreiteira Toyo-Setal. O dinheiro escorreu por meio de uma filiada, a Tipuana Participações Ltda., registrada em nome de Augusto Ribeiro de Mendonça, que há poucos dias firmou com o Ministério Público Federal um acordo de delação premiada. Mendonça é o segundo executivo do grupo Toyo a assinar um termo de colaboração. O primeiro foi Júlio Camargo, cujas revelações têm surpreendido os procuradores.
A força-tarefa da Operação Lava Jato, que investiga o esquema montado por Youssef e Paulo Roberto Costa, quer saber agora quem foram os destinatários finais do dinheiro recebido por Assad. Chama a atenção dos procuradores, por exemplo, três depósitos idênticos de R$ 783.546,93 feitos simultaneamente, no dia 18 de dezembro de 2009, nas contas das empresas Rigidez, Legend e DFS Participações. Ocorre que o dia 18 de dezembro marcou o encerramento da CPI que investigou a Petrobras em 2009. A investigação sobre a estatal terminou como tantas outras, sem qualquer punição. A PF suspeita que o dinheiro repassado pela Tipuana serviu para selar o acordo para pôr um fim na CPI. Nas semanas que antecederam essa operação, a Legend, de Assad, recebeu outros R$ 12 milhões. A PF já sabe que a empreiteira Rigidez, que recebeu no total R$ 62 milhões da Tipuana, pertence ao doleiro Alberto Youssef. Já a DFS está registrada em nome do próprio Augusto de Mendonça.
Na semana passada, o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), pediu a quebra de sigilo de uma das empresas de Assad, a Rock Star Marketing. Até então, Bueno só tinha conhecimento de que a Rock Star havia feito um depósito de R$ 1,2 milhão na conta da MO Consultoria, outra das empresas de Youssef. Com as novas evidências, Bueno vai ampliar seu pedido para todo rol de empresas ligadas a Assad. Para a Polícia Federal, é necessário quebrar também o sigilo bancário de todas as empresas ligadas a Augusto de Mendonça. No histórico de operações da Tipuana, os investigadores identificaram inúmeras transferências para empresas em nome de familiares de Mendonça e sócios, num montante superior a R$ 100 milhões. Desse total, R$ 18,7 milhões foram para a Yellowwood Consultoria.
NA MIRA DA PF
Compra de empreendimento pelo deputado Celso Russomano
e pela filha do deputado Eduardo Gomes será investigada
Em 2012, a Yellowwood abriu em Brasília uma filial do Bar do Alemão, situado às margens do Lago Paranoá, região nobre de Brasília. O empreendimento ganhou notoriedade por reunir em seu quadro societário o deputado federal Celso Russomanno (PRB-SP) e a filha do deputado federal licenciado Eduardo Gomes (SD-TO), hoje secretário de Esportes do Tocantins. Tanto Russomanno como Gomes tiveram dificuldades para explicar como conseguiram R$ 1 milhão cada um para participar do negócio. O deputado paulista disse que pagaria sua parte trabalhando na administração do bar. Seu colega do Tocantins alegou que recorreu a empréstimos e economias. Agora, se sabe que a Yellowwood pertence ao executivo da Toyo-Setal que mantém relações com Assad e Youssef.
Para a PF, Russomanno e Gomes terão de explicar melhor essa sociedade e a relação com Adir Assad. Há dois anos, quando veio à tona o caso de corrupção envolvendo a Delta, Russomanno foi flagrado num convescote com o empresário libanês na casa de Marcello Abbud. Os dois teriam sido apresentados por Paulo Maluf, que teve negócios com Assad no passado. ISTOÉ tentou contato com ambos, mas não obteve retorno. O empresário libanês tem muito a dizer, resta saber se desta vez a Justiça lhe garantirá o silêncio.
Foto: André Dusek/ Estadão Conteúdo
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