EDITORIAIS
As invasões de Câmaras, como a de Porto Alegre, e Assembleias Legislativas pelo país afora são motivo de preocupação para toda a sociedade brasileira. Em primeiro lugar, representam uma transgressão das regras democráticas em vigor no país desde 1985. A função precípua dos parlamentos em qualquer nação moderna é representar os cidadãos, legislar e fiscalizar o Poder Executivo, contrabalançando seu peso institucional. A tomada da sede do Legislativo por manifestantes, a qualquer pretexto, não se coaduna com esse objetivo e serve muito bem para obstruí-lo. Em segundo, tais atos refletem uma profunda descrença, sobretudo da parte da juventude, pela forma de representação parlamentar hoje existente no país. Essa descrença, que no passado se limitava aos indivíduos, passou nos últimos tempos a contaminar a própria instituição. Tanto que as invasões vêm gerando pouca ou nenhuma indignação por parte dos cidadãos. Essa atitude reflete uma quase indiferença da população em geral no que toca ao parlamento, resultado da irrelevância e do comportamento errático daqueles que o integram. Assim, não é de causar espanto que até mesmo vereadores apoiem a intervenção direta na sede do poder que integram. Tudo isso evidencia uma profunda crise de representatividade.
Apesar de as ocupações de sedes legislativas serem parte de um evidente jogo político, esses incidentes têm o mérito de proporcionar uma oportunidade para reflexão sobre o papel dos parlamentos. No caso específico de Porto Alegre, a ação do Bloco de Luta pelo passe livre tem muito de utopia e ingenuidade, pois as fontes de recursos imaginadas para zerar a tarifa para estudantes e desempregados não se sustentam na realidade. Ainda assim, cabe aos poderes Executivo e Legislativo do município examinarem o pedido, darem a ele a devida atenção e buscarem alternativas viáveis.
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