FOLHA.COM 19/07/2013 - 03h30
Editorial
Se havia alguma dúvida de que está carcomido o sistema de apoio político da presidente Dilma Rousseff (PT), o deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) tratou de reduzi-la a pó.
Em entrevista à Folha e ao UOL, o presidente da Câmara afirmou que Dilma deveria preparar para o começo do segundo semestre uma reforma em sua equipe. Sem aparentar nenhum pudor com as próprias palavras, Alves sugeriu a diminuição do número de ministérios, dos atuais 39 para 25.
É difícil crer que o terceiro nome na hierarquia da República esteja falando sério. O sempre governista PMDB é o maior aliado da administração petista e está abrigado em cinco pastas: Agricultura, Minas e Energia, Previdência Social, Turismo e Aviação Civil (secretaria com status ministerial).
É razoável supor que, em uma eventual ordem de despejo, os titulares desses últimos dois ministérios terminariam desalojados.
Ainda que se possa argumentar que o PMDB veria aumentar seu poder relativo caso fossem cortadas 14 pastas --algumas siglas da base aliada poderiam ficar sem espaço no governo federal--, o mais provável é que Henrique Alves, com a anuência de seu partido, esteja apenas armando uma esparrela para a presidente.
Se Dilma reduzir os ministérios neste momento, não só ampliará os atritos com os aliados como terá agido somente após manifestação do PMDB --e não por iniciativa própria. Dois resultados indesejáveis do ponto de vista eleitoral.
Por outro lado, se a presidente nada fizer --e parece ser exatamente este o caso, como já sinalizou a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti--, ela carregará o peso de não ter dado a devida atenção aos protestos recentes.
O presidente da Câmara devolve para Dilma, com isso, a responsabilidade de dar uma resposta às ruas --ônus que a petista tentou transferir para o Congresso Nacional ao sugerir uma reforma política pela via plebiscitária.
Sob a perspectiva orçamentária, a redução de ministérios teria pouco impacto nas contas públicas. Estima-se que o custo da gestão federal (a máquina das 39 pastas) represente menos de 10% das despesas primárias do governo (sem considerar gastos com juros).
Se cabe a paráfrase, não é tanto pelo corte em si, portanto, mas pelo que ele significa em termos de comprometimento com a austeridade. O governo da presidente Dilma Rousseff, contudo, parece incapaz de adotar até mesmo as iniciativas simbólicas.
Editorial
Se havia alguma dúvida de que está carcomido o sistema de apoio político da presidente Dilma Rousseff (PT), o deputado federal Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) tratou de reduzi-la a pó.
Em entrevista à Folha e ao UOL, o presidente da Câmara afirmou que Dilma deveria preparar para o começo do segundo semestre uma reforma em sua equipe. Sem aparentar nenhum pudor com as próprias palavras, Alves sugeriu a diminuição do número de ministérios, dos atuais 39 para 25.
É difícil crer que o terceiro nome na hierarquia da República esteja falando sério. O sempre governista PMDB é o maior aliado da administração petista e está abrigado em cinco pastas: Agricultura, Minas e Energia, Previdência Social, Turismo e Aviação Civil (secretaria com status ministerial).
É razoável supor que, em uma eventual ordem de despejo, os titulares desses últimos dois ministérios terminariam desalojados.
Ainda que se possa argumentar que o PMDB veria aumentar seu poder relativo caso fossem cortadas 14 pastas --algumas siglas da base aliada poderiam ficar sem espaço no governo federal--, o mais provável é que Henrique Alves, com a anuência de seu partido, esteja apenas armando uma esparrela para a presidente.
Se Dilma reduzir os ministérios neste momento, não só ampliará os atritos com os aliados como terá agido somente após manifestação do PMDB --e não por iniciativa própria. Dois resultados indesejáveis do ponto de vista eleitoral.
Por outro lado, se a presidente nada fizer --e parece ser exatamente este o caso, como já sinalizou a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti--, ela carregará o peso de não ter dado a devida atenção aos protestos recentes.
O presidente da Câmara devolve para Dilma, com isso, a responsabilidade de dar uma resposta às ruas --ônus que a petista tentou transferir para o Congresso Nacional ao sugerir uma reforma política pela via plebiscitária.
Sob a perspectiva orçamentária, a redução de ministérios teria pouco impacto nas contas públicas. Estima-se que o custo da gestão federal (a máquina das 39 pastas) represente menos de 10% das despesas primárias do governo (sem considerar gastos com juros).
Se cabe a paráfrase, não é tanto pelo corte em si, portanto, mas pelo que ele significa em termos de comprometimento com a austeridade. O governo da presidente Dilma Rousseff, contudo, parece incapaz de adotar até mesmo as iniciativas simbólicas.
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