EDITORIAL
As falhas admitidas para a queda do viaduto em Belo Horizonte precisam levar a uma revisão radical na construção de obras de infraestrutura.
Dezenove dias depois do desabamento do viaduto Guararapes, em Belo Horizonte, a empresa responsável pela execução da obra admitiu falhas na concepção do projeto, especialmente a colocação de aço insuficiente para suportar a carga de tráfego prevista. A exemplo do que ocorreu na boate Kiss, embora a proporção de vítimas agora seja menor, o desabamento também não foi uma fatalidade: foi, isto sim, resultado da falta de cuidados mínimos por parte das empreiteiras e dos órgãos públicos encarregados da fiscalização. Ambos os casos demonstram que o país está longe de combater com a intensidade necessária esta cultura da irresponsabilidade, que mantém os cidadãos sob riscos constantes.
A tragédia que resultou na morte de duas pessoas e em 23 feridos em plena Copa do Mundo é didática para demonstrar o quanto é comum a diluição de responsabilidades no caso de obras públicas. A construtora responsável pela obra culpou a prefeitura pelo erro estrutural que levou à queda, disseminando suspeitas sobre uma série de outros empreendimentos em edificação na cidade. Como o projeto executivo é de responsabilidade de outra empresa – a quem a construtora acusa de ter usado um décimo da quantidade de aço necessário para manter a estrutura de pé –, a administração municipal ainda vai aguardar o resultado de perícias oficiais para tomar providências. Enquanto isso, resta aos cidadãos conviver com o temor permanente.
A sociedade precisa cobrar, de forma incisiva, conclusões convincentes para o caso. Desde já, porém, um fato incontestável é que faltou aço, mas também seriedade no planejamento e na execução do viaduto batizado ironicamente com nome de uma batalha vitoriosa para o país, que culminou na expulsão dos invasores holandeses. E é óbvio que, acima de tudo, pairam relações espúrias entre empreiteiras e governantes, para os quais obras públicas são vistas não sob a ótica do interesse da população, mas do financiamento de campanhas eleitorais.
Assim como ocorreu no caso da Kiss, que impôs maior rigor na prevenção de incêndios, as falhas admitidas para a queda do viaduto em Belo Horizonte precisam levar a uma revisão radical na construção de obras de infraestrutura. Os riscos não se restringem à capital mineira. Estão presentes em todo o país, especialmente em cidades-sede da Copa, incluindo Porto Alegre, nas quais obras importantes também foram executadas de forma açodada.
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