CADU CALDAS
PIBINHO À VISTA. Entre falta de confiança e eleição
PELA PRIMEIRA VEZ neste ano, analistas consultados pelo BC projetam que crescimento de 2014 ficará abaixo de 1%. Indicadores mostram perda de fôlego da atividade, mas especialistas cogitam contaminação de clima pré-eleitoral
Cada vez mais pessimistas com o ritmo da economia brasileira, analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) projetam que o crescimento do país ficará abaixo de 1% em 2014. Em queda há três meses, a estimativa, divulgada pelo BC no Relatório Focus ontem, sinaliza a falta de confiança dos especialistas em uma recuperação no segundo semestre, mas também pode refletir o clima pré-eleitoral.
A expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) fique em 0,97%. O forte recuo na projeção – uma semana atrás, era de 1,05% – ocorreu após a divulgação do IBC-Br de maio, indicador calculado pelo BC e considerado de maneira informal uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB). A queda de 0,18% mostrou que a atividade econômica não retomou o fôlego perdido no primeiro trimestre, quando cresceu apenas 0,2%.
Na onda de pessimismo, o departamento econômico do Bradesco revisou as próprias projeções para expansão do PIB de 1,5% para 1% em relatório divulgado ontem aos clientes. Segundo os analistas do banco, a reavaliação foi movida pela queda da confiança na recuperação econômica. Professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Elerry avalia que é errado rotular o mercado de pessimista.
– É um cenário realista. Esse discurso de que o mercado está de mau humor é balela. Nos últimos cinco anos, os analistas erraram feio apenas duas vezes e nas duas ocasiões foram muito mais otimistas do que a realidade apontou – afirmou Elerry.
Pedro Raffy, professor de economia da Universidade Mackenzie, reconhece a credibilidade do relatório Focus, mas ressalta que a percepção dos analistas pode estar “contaminada” pelo clima eleitoral:
– É preciso ter cautela com projeções muito otimistas ou muito pessimistas, principalmente em ambiente de disputa eleitoral, em que o desempenho econômico tende a se tornar o centro do debate.
SETOR AUTOMOTIVO ESPERA SEGUNDO SEMESTRE MELHOR
Em economia, tão importantes quanto o ritmo da atividade econômica são as expectativas das pessoas quanto ao futuro. São as projeções de consumidores, investidores e empresários sobre o desempenho do país nos próximos meses que definem se é o momento certo para financiar a casa própria, ampliar o negócio ou deixar o dinheiro guardado para eventuais dificuldades. No discurso de posse da diretoria da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) em Porto Alegre, na semana passada, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, reclamou do pessimismo que “emperra a economia” e chamou a atenção para “profecias muito negativas em período pré-eleitoral”.
Em cenário de análises desanimadoras, a surpresa positiva vem do setor automobilístico – o que teve o pior desempenho na indústria no primeiro semestre. Entre os motivos de ânimo apontados por Luiz Moan, presidente da Anfavea, associação que reúne as montadoras no Brasil, está a normalização dos financiamentos via Programa de Sustentação do Investimento (PSI) represados no início do ano, o acordo fechado com a Argentina para retomar a venda de automóveis e o alento do sucesso da organização da Copa do Mundo. O executivo, que acertou o avanço do PIB no ano passado, projeta crescimento mais perto de 2% do que de 1% para 2014.
+ ECONOMIA | Maria Isabel Hammes
PELA PRIMEIRA VEZ, NEM 1%
É arregaçar as mangas, respirar fundo e pôr mãos à obra. Caso contrário, fica difícil tocar adiante quando, pela primeira vez no ano, a expectativa de crescimento da economia brasileira cai abaixo de 1% não passa de raquíticos 0,97%.
No Relatório de Mercado Focus, a previsão de aumento de preços não teve grande variação (6,44%). Agora, o que se aguarda é a divulgação da ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na semana passada, que determinou a manutenção do juro básico da economia em 11% ao ano. A questão maior, porém, é o pouco tempo ou a quase inexistência de fórmula com peso suficiente para tentar uma reação mais vigorosa ainda neste ano.
Na realidade, o que está havendo é uma espécie de contaminação de expectativas negativas, que acabam influenciando a (quase) todos. Em sua análise de mercado divulgada ontem, o Bradesco, por exemplo, classifica de “notável” a deterioração das expectativas na indústria, no comércio, na construção civil, no setor de serviços e entre os consumidores.
Com índices de confiança que recuaram para os níveis mais baixos desde 2009 – época da grande crise global –, investimentos têm sido postergados e estoques estão altos na indústria e no varejo. Além disso, a situação atual da Argentina e a fraca demanda global pesam. A única “tábua de salvação” que ainda aponta uma chance de mudança na tendência é, para os analistas do banco, o consumo das famílias diante dos aumentos reais de salários esperada para o decorrer dos próximos meses. Mesmo assim, ainda a conferir.
Nesse contexto, a ideia é de que, para o próximo ano, a retomada dos investimentos só venha lentamente, trazendo de volta um maior dinamismo à economia.
Qualquer que seja o vitorioso na disputa pelo Planalto, pelo menos no primeiro semestre de 2015 será preciso ajustes no lado fiscal – arrecadação e gastos públicos – e na política de preços administrados, como os de energia e combustível. Não é de uma hora para outra. Mas já pode dar sinais para a recuperação da confiança.
PELA PRIMEIRA VEZ neste ano, analistas consultados pelo BC projetam que crescimento de 2014 ficará abaixo de 1%. Indicadores mostram perda de fôlego da atividade, mas especialistas cogitam contaminação de clima pré-eleitoral
Cada vez mais pessimistas com o ritmo da economia brasileira, analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) projetam que o crescimento do país ficará abaixo de 1% em 2014. Em queda há três meses, a estimativa, divulgada pelo BC no Relatório Focus ontem, sinaliza a falta de confiança dos especialistas em uma recuperação no segundo semestre, mas também pode refletir o clima pré-eleitoral.
A expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) fique em 0,97%. O forte recuo na projeção – uma semana atrás, era de 1,05% – ocorreu após a divulgação do IBC-Br de maio, indicador calculado pelo BC e considerado de maneira informal uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB). A queda de 0,18% mostrou que a atividade econômica não retomou o fôlego perdido no primeiro trimestre, quando cresceu apenas 0,2%.
Na onda de pessimismo, o departamento econômico do Bradesco revisou as próprias projeções para expansão do PIB de 1,5% para 1% em relatório divulgado ontem aos clientes. Segundo os analistas do banco, a reavaliação foi movida pela queda da confiança na recuperação econômica. Professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Elerry avalia que é errado rotular o mercado de pessimista.
– É um cenário realista. Esse discurso de que o mercado está de mau humor é balela. Nos últimos cinco anos, os analistas erraram feio apenas duas vezes e nas duas ocasiões foram muito mais otimistas do que a realidade apontou – afirmou Elerry.
Pedro Raffy, professor de economia da Universidade Mackenzie, reconhece a credibilidade do relatório Focus, mas ressalta que a percepção dos analistas pode estar “contaminada” pelo clima eleitoral:
– É preciso ter cautela com projeções muito otimistas ou muito pessimistas, principalmente em ambiente de disputa eleitoral, em que o desempenho econômico tende a se tornar o centro do debate.
SETOR AUTOMOTIVO ESPERA SEGUNDO SEMESTRE MELHOR
Em economia, tão importantes quanto o ritmo da atividade econômica são as expectativas das pessoas quanto ao futuro. São as projeções de consumidores, investidores e empresários sobre o desempenho do país nos próximos meses que definem se é o momento certo para financiar a casa própria, ampliar o negócio ou deixar o dinheiro guardado para eventuais dificuldades. No discurso de posse da diretoria da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) em Porto Alegre, na semana passada, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, reclamou do pessimismo que “emperra a economia” e chamou a atenção para “profecias muito negativas em período pré-eleitoral”.
Em cenário de análises desanimadoras, a surpresa positiva vem do setor automobilístico – o que teve o pior desempenho na indústria no primeiro semestre. Entre os motivos de ânimo apontados por Luiz Moan, presidente da Anfavea, associação que reúne as montadoras no Brasil, está a normalização dos financiamentos via Programa de Sustentação do Investimento (PSI) represados no início do ano, o acordo fechado com a Argentina para retomar a venda de automóveis e o alento do sucesso da organização da Copa do Mundo. O executivo, que acertou o avanço do PIB no ano passado, projeta crescimento mais perto de 2% do que de 1% para 2014.
+ ECONOMIA | Maria Isabel Hammes
PELA PRIMEIRA VEZ, NEM 1%
É arregaçar as mangas, respirar fundo e pôr mãos à obra. Caso contrário, fica difícil tocar adiante quando, pela primeira vez no ano, a expectativa de crescimento da economia brasileira cai abaixo de 1% não passa de raquíticos 0,97%.
No Relatório de Mercado Focus, a previsão de aumento de preços não teve grande variação (6,44%). Agora, o que se aguarda é a divulgação da ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na semana passada, que determinou a manutenção do juro básico da economia em 11% ao ano. A questão maior, porém, é o pouco tempo ou a quase inexistência de fórmula com peso suficiente para tentar uma reação mais vigorosa ainda neste ano.
Na realidade, o que está havendo é uma espécie de contaminação de expectativas negativas, que acabam influenciando a (quase) todos. Em sua análise de mercado divulgada ontem, o Bradesco, por exemplo, classifica de “notável” a deterioração das expectativas na indústria, no comércio, na construção civil, no setor de serviços e entre os consumidores.
Com índices de confiança que recuaram para os níveis mais baixos desde 2009 – época da grande crise global –, investimentos têm sido postergados e estoques estão altos na indústria e no varejo. Além disso, a situação atual da Argentina e a fraca demanda global pesam. A única “tábua de salvação” que ainda aponta uma chance de mudança na tendência é, para os analistas do banco, o consumo das famílias diante dos aumentos reais de salários esperada para o decorrer dos próximos meses. Mesmo assim, ainda a conferir.
Nesse contexto, a ideia é de que, para o próximo ano, a retomada dos investimentos só venha lentamente, trazendo de volta um maior dinamismo à economia.
Qualquer que seja o vitorioso na disputa pelo Planalto, pelo menos no primeiro semestre de 2015 será preciso ajustes no lado fiscal – arrecadação e gastos públicos – e na política de preços administrados, como os de energia e combustível. Não é de uma hora para outra. Mas já pode dar sinais para a recuperação da confiança.
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