VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 1 de novembro de 2014

SINAIS TROCADOS



FOLHA.COM 01/11/2014 02h00

André Singer



Todo mundo sabe que Dilma Rousseff ganhou a eleição. Mas talvez não tenha ficado claro o suficiente qual foi a persona vencedora e o quanto pode prejudicá-la emitir sinais duvidosos a respeito do significado da vitória. A primeira semana depois do pleito foi cheia deles.

Para recordar. A propaganda da candidata realçou, desde o início, a face heroica da jovem Dilma. Engajada em opção armada, aguentou a tortura de maneira exemplar no fim dos anos 1960. Fez-se símbolo do que houve de mais corajoso na resistência de esquerda à longa noite ditatorial.

Em seguida, Dilma começou a ganhar a eleição quando escolheu combater Marina Silva pela esquerda. Diante do anúncio, feito pela então candidata do PSB em ascensão fulminante, de que daria independência ao Banco Central, o programa eleitoral da hoje ganhadora apresentou uma equação mortífera. BC independente equivaleria a entregar a instituição aos banqueiros e estes tirariam a comida do prato dos pobres.

Vale repetir. Marina caiu sob golpes de esquerda, os quais são até difíceis de apresentar e de explicar numa época de hegemonia neoliberal. Foi opção ousada; deu certo. A porta-voz da Rede Sustentabilidade ficou para trás e o coração valente prosseguiu.

A vitória final começou a ser construída quando, no segundo turno, Dilma e Lula escolheram mostrar o caráter de classe da candidatura Aécio. Não foi deslize Lula ter chamado o tucano de "filhinho de papai". Outra vez, escolha arriscada –envolvia um tipo de radicalização ao qual o Brasil é pouco afeito. De novo funcionou: a antiga guerrilheira chegou à frente, raspando a trave.

Encerrada a contenda, no entanto, começaram a proliferar informações contraditórias a respeito das escolhas cruciais a serem feitas pela ex-jovem heroína. A primeira veio à tona menos de 24 horas após contados os votos. Dilma estaria em busca de um nome do mercado para ministro da Fazenda. Mas se era para entregar a política econômica aos banqueiros como justificar os ataques a Marina e Aécio?

No dia seguinte coube ao próprio BC protagonizar mais uma emissão atravessada de sinais. Para surpresa do próprio mercado, a diretoria decidiu aumentar os juros. Mas não era isso que se queria evitar? Dilma havia dito que o PSDB plantava "dificuldades para colher juros". E agora?

Por fim, surge a informação de que o governo prepara um pacote com redução de gastos públicos para a semana que vem. Na campanha, Dilma disse que os tucanos só sabiam cortar, e que ela faria diferente. A presidente parece não ter percebido que os dizeres contam e que o preço de afirmar uma coisa e fazer outra é muito maior do que parece.




André Singer é cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.

Um comentário:

milicianomunicipal disse...

De excelente lavra os textos desse expoente do pensamento social, vale dizer que seu pai Paul Singer e o próprio André Singer, tem ligações com o Partido dos Trabalhadores.