REVISTA ISTO É N° Edição: 2327 | 27.Jun.14
Gilberto Carvalho deflagra onda de autocrítica no PT e recebe apoio de alas do partido defensoras de uma volta às origens, de Lula e até do marqueteiro de Dilma, João Santana
Gilberto Carvalho deflagra onda de autocrítica no PT e recebe apoio de alas do partido defensoras de uma volta às origens, de Lula e até do marqueteiro de Dilma, João Santana
Josie Jeronimo
Depois de o PT passar quase 12 anos no poder resistindo a assumir seus erros, o partido parece ter iniciado uma fase de autocrítica. A onda foi puxada, na última semana, pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Até então, o PT, Rui Falcão à frente, e o ex-presidente Lula vinham conduzindo a campanha com base na exacerbação do discurso do “nós contra eles”. A retórica petista dividia o País, como se eleitores do partido fossem “especiais e diferentes” e travassem, na eleição, uma disputa contra “adversários” representados por setores da população que pensam diferente da legenda, não raro tachados de “elite branca”. Agindo como se fosse a voz sincera da consciência do partido, Carvalho foi o primeiro a se posicionar contra essa tese maniqueísta. Disse que os xingamentos sofridos pela presidenta Dilma Rousseff na abertura da Copa não podem ser resumidos a uma questão de luta de classes. As críticas, disse ele, “desceram” para o povo, e, por isso, o PT “erra o diagnóstico”. “Tinha muito moleque dentro do metrô gritando palavrão e eles não tinham nada a ver com a elite branca”, afirmou. “(Que o PT) não parta da ilusão de que o povo pensa que está tudo bem”, alertou.
GRILO FALANTE
Para Gilberto Carvalho, as vaias a Dilma não partiram da "elite branca"
Ao longo da semana, foi possível constatar que o ministro não falava sozinho. Além de receber o apoio do marqueteiro de Dilma, João Santana, para quem o discurso do “nós contra eles” está defasado, Carvalho ecoou o pensamento de alas do PT defensoras de um “retorno às origens”. Essa discussão, tornada pública agora, nasceu no Processo de Eleição Direta (PED) de 2013. Na ocasião, fundadores do partido admitiram que o PT foi vítima da teoria do sociólogo Robert Michels, que cunhou a Lei de Ferro das Oligarquias. Ou seja, ao se fechar em um núcleo duro, se burocratizar e priorizar o poder, o partido abriu as portas para os vícios da corrupção. O remédio para escapar disso seria admitir os problemas e tentar mostrar que o PT “não é como os outros”. O movimento, no entanto, foi sepultado com a reeleição de Rui Falcão para a presidência da sigla. Agora, porém, volta com força total. A onda revisionista deflagrada por Carvalho terminou a semana sendo surfada por Lula. Em entrevista ao SBT, o ex-presidente, que havia culpado a “elite branca” pelos xingamentos a Dilma, mudou o tom. “Possivelmente a gente tenha culpa de não ter cuidado disso com carinho. O PT não pode fazer uma campanha sem discutir o tema da corrupção. Não podemos, como avestruz, enfiar a cabeça na areia e falar ‘esse tema não é nosso’ ”, afirmou o ex-presidente. É o PT cortando na própria carne.
Depois de o PT passar quase 12 anos no poder resistindo a assumir seus erros, o partido parece ter iniciado uma fase de autocrítica. A onda foi puxada, na última semana, pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Até então, o PT, Rui Falcão à frente, e o ex-presidente Lula vinham conduzindo a campanha com base na exacerbação do discurso do “nós contra eles”. A retórica petista dividia o País, como se eleitores do partido fossem “especiais e diferentes” e travassem, na eleição, uma disputa contra “adversários” representados por setores da população que pensam diferente da legenda, não raro tachados de “elite branca”. Agindo como se fosse a voz sincera da consciência do partido, Carvalho foi o primeiro a se posicionar contra essa tese maniqueísta. Disse que os xingamentos sofridos pela presidenta Dilma Rousseff na abertura da Copa não podem ser resumidos a uma questão de luta de classes. As críticas, disse ele, “desceram” para o povo, e, por isso, o PT “erra o diagnóstico”. “Tinha muito moleque dentro do metrô gritando palavrão e eles não tinham nada a ver com a elite branca”, afirmou. “(Que o PT) não parta da ilusão de que o povo pensa que está tudo bem”, alertou.
GRILO FALANTE
Para Gilberto Carvalho, as vaias a Dilma não partiram da "elite branca"
Ao longo da semana, foi possível constatar que o ministro não falava sozinho. Além de receber o apoio do marqueteiro de Dilma, João Santana, para quem o discurso do “nós contra eles” está defasado, Carvalho ecoou o pensamento de alas do PT defensoras de um “retorno às origens”. Essa discussão, tornada pública agora, nasceu no Processo de Eleição Direta (PED) de 2013. Na ocasião, fundadores do partido admitiram que o PT foi vítima da teoria do sociólogo Robert Michels, que cunhou a Lei de Ferro das Oligarquias. Ou seja, ao se fechar em um núcleo duro, se burocratizar e priorizar o poder, o partido abriu as portas para os vícios da corrupção. O remédio para escapar disso seria admitir os problemas e tentar mostrar que o PT “não é como os outros”. O movimento, no entanto, foi sepultado com a reeleição de Rui Falcão para a presidência da sigla. Agora, porém, volta com força total. A onda revisionista deflagrada por Carvalho terminou a semana sendo surfada por Lula. Em entrevista ao SBT, o ex-presidente, que havia culpado a “elite branca” pelos xingamentos a Dilma, mudou o tom. “Possivelmente a gente tenha culpa de não ter cuidado disso com carinho. O PT não pode fazer uma campanha sem discutir o tema da corrupção. Não podemos, como avestruz, enfiar a cabeça na areia e falar ‘esse tema não é nosso’ ”, afirmou o ex-presidente. É o PT cortando na própria carne.
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