NILSON SOUZA
Por coincidência, terminei de ler ontem as 415 páginas de 1889, exatamente no dia em que este jornal publicou uma bela entrevista com o autor do livro, Laurentino Gomes. O jornalista paranaense que virou escritor de sucesso, e que vem recontando de maneira deliciosa a história do Brasil, disse ao repórter Alexandre Lucchese que a herança monárquica é mais forte do que a republicana na formação do caráter do brasileiro.
O que isso significa? Segundo o escritor, que parcela expressiva da população prefere acreditar que o soberano, o monarca, agora representado pelo Estado, lhe dará tudo o que necessita, sem que precise se envolver e participar da vida do país. Do mesmo teor é o pensamento mágico de que todos os políticos são corruptos e que é preciso entregar a um ditador (imperador?) a tarefa de moralizar a nação.
Seríamos, portanto, uma República com mentalidade monarquista. Realmente, o próprio Laurentino conta em seu livro que os brasileiros nunca tiveram muito apreço pela República, na verdade um golpe militar na carcomida monarquia de Dom Pedro II, ele mesmo um simpatizante do regime republicano. Outra assustadora constatação, essa atribuída ao abolicionista Joaquim Nabuco, é a de que a escravidão prolongada fez com que os brasileiros desprezassem o trabalho, pois quem trabalhava era o escravo.
Corta para esta segunda-feira que assinala a metade do ano. Neste momento, avança no Congresso um projeto do deputado mineiro Newton Cardoso que pretende extinguir exatamente o feriado da Proclamação da República, o 15 de Novembro, sob o argumento de que o movimento comandado por Deodoro da Fonseca não teve participação popular.
Não teve mesmo. O projeto de Newtão é absurdo, mas pode ter um efeito positivo para a economia do país. Caso seja aprovado, neste ano só voltaremos a ter feriado no Natal. Julho e agosto não têm feriados, o 7 de Setembro cai num domingo, como também 12 de outubro (Nossa Senhora Aparecida) e 2 de novembro (Finados).
Nada mais republicano – para usar a linguagem da moda – do que trabalhar, não é verdade?
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