ANTONIO PRATA
Cada vez que leio sobre os gastos com a Copa, lembro do meu casamento e das intermináveis discussões a respeito do toldo. Quem já trocou alianças numa casa ou num local aberto sabe do que estou falando. Chega uma hora na organização de todo casório em que alguém – uma sogra, um cunhado, um conhecido da prima da vizinha – levanta a questão: “Não vai botar toldo? E se chove, gente? Que isso, tem que ter toldo!”.
Você concorda, achando que é só bater uns preguinhos nas paredes, esticar umas cordas de varal e comprar uma lona, mas descobre, pela expressão aterrorizada da sua futura esposa, ao ouvi-lo, que a coisa é um pouco mais complexa. Existem empresas que instalam toldos – e cobram uma fortuna por isso. Percebendo que talvez tenha que vender o carro (ou o corpo) pra pagar a conta, você se pergunta: vale a pena gastar essa fábula pra cobrir uma área que será usada por cinco, dez horas, no máximo?
Quando vejo as pessoas revoltadas com o fato de estarmos realizando um Mundial, lembro do toldo, pois é disso que se trata uma Copa, uma Olimpíada: de uma festa. Ainda que houvesse um grande legado urbanístico (não haverá), o grosso do dinheiro é mesmo gasto num evento que dura um mês. Pode um país com tantos problemas, como o nosso, gastar essa grana?
Para complicar ainda mais a questão, teve (tem) um monte de coisa errada na organização da festa. Indícios de superfaturamento do toldo, desvio de bem-casados, DJ que ainda não instalou as caixas, meia hora antes dos convidados chegarem. Mas torcer para que o Brasil perca, para que a energia acabe, para que o rei da Suécia pegue dengue e as privadas de todos os hotéis das cidades sede entupam, como tanta gente por aí está torcendo, é uma atitude politicamente tão inteligente e construtiva quanto demorar mais no banho para derrubar o Alckmin, em São Paulo. A Copa ser um fiasco não alfabetizará a população, não resolverá a saúde pública, não melhorará o transporte. Nos deixará na mesmíssima situação – só que com um fiasco de Copa.
Não estou dizendo que devemos liberar a Joana Havelange que vive em cada um de nós: “O que tinha que ser roubado, já foi”. Nada tinha que ser roubado. Que se ponha atrás das grades quem roubou. Que se aproveite todos os holofotes mundiais para se esticar faixas e cartazes contra o estado das nossas escolas e dos nossos hospitais, a falta de moradias e de transporte. Mas, a partir desta semana, Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Klose, Eto’o, Drogba e tantos outros estarão jogando em nossos gramados. Os maiores jogadores do mundo, no maior espetáculo do futebol. Se privar de viver essa experiência, seja nos estádios, nas praças, nos bares, em casa ou mesmo durante uma justíssima manifestação, pela internet do celular, não fará o Brasil melhor, só deixará sua vida mais chata.
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