ZERO HORA 18 de junho de 2014 | N° 17832
EDITORIAL
Os políticos não podem ignorar o recado de quem pede o fim de velhas práticas de campanha e a união em torno de objetivos claros.
A recente troca de acusações entre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, os ataques de cunho pessoal entre lideranças políticas e a animosidade recíproca entre líderes de partidos que disputam o poder causam apreensão na antevéspera da campanha eleitoral. Há muito ódio no ar. Basta observar o nível do debate nas redes sociais para se perceber a dificuldade de aceitação de quem pensa diferente. Se persistir nesse tom, o país corre o risco de ver o espaço destinado à discussão de temas importantes ocupado por ataques pessoais entre os candidatos. A democracia brasileira precisa de um debate político mais elevado, com foco nos problemas nacionais, nas carências de serviços básicos e no desenvolvimento socioeconômico.
Apesar disso, começa a ficar claro que os políticos, de maneira geral, não ouviram o recado favorável a mudanças repetido em manifestações de rua que se mantêm há um ano. Essa constatação ficou mais evidente a partir do último fim de semana, quando foram realizadas algumas convenções partidárias importantes. A intenção não é dar ênfase ao debate sobre temas concretos como os defendidos nos cartazes de protestos, mas fomentar a troca de agressões. A radicalização, presente também nos insultos à presidente da República no Itaquerão, desgasta ainda mais a política, além de jogar contra os interesses do país.
Uma prova de que ataques entre candidatos não contribuem para esclarecer os eleitores é o fato de as pesquisas de opinião pública apurarem, a esta altura, um percentual superior a 30% de votos brancos, nulos e indecisos. Os políticos não podem ignorar o recado de quem pede o fim de velhas práticas de campanha e a união em torno de objetivos claros. Entre os hábitos anacrônicos, estão as agressões baixas, que levam a política para o plano pessoal, e não para o dos eleitores. Entre as prioridades, incluem-se justamente ações que se constituem em dever do poder público, como fornecer serviços de qualidade em áreas como educação, saúde e segurança, além de infraestrutura.
Felizmente, ainda há tempo para correções de rumo. A mudança, necessária, vai depender em muito da capacidade de também os eleitores darem exemplo, cobrando menos hipocrisia e corrupção e pressionando por uma política transformadora.
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