Especialistas alertam que descrença pode abrir espaço para promessas sem fundamento. Pesquisa Datafolha mostrou que 36% dos eleitores creem que a situação econômica do país vai piorar
POR ANA PAULA RIBEIRO
O GLOBO 07/06/2014 8:00
SÃO PAULO - A estagnação do consumo e um crescimento de renda em ritmo menor que em anos anteriores são fatores que, segundo economistas, ajudam a explicar o aumento do pessimismo do eleitor em relação à economia. Junta-se a isso a inflação em patamares elevados, o que corrói parte do poder de compra.
A última pesquisa Datafolha mostrou que 36% dos eleitores creem que a situação econômica do país vai piorar — um avanço de oito pontos em relação ao levantamento anterior e quatro pontos acima dos que veem a situação estável (32%).
Para Tharcísio Souza Santos, professor de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), uma parcela dos consumidores tem a sensação de que não conseguirá repetir a curto prazo o ganho na qualidade de vida que alcançou recentemente:
— O consumo está um pouco estagnado. Algumas pessoas pensaram que a melhora na qualidade de vida seria contínua. Quando esse ganho para, contribui para um clima de pessimismo — afirmou o professor da Faap.
CONSUMIDORES CAUTELOSOS
Há fatores objetivos e subjetivos que contribuem para esse clima, dizem os especialistas. No primeiro caso, o que afeta diretamente o bolso do consumidor tem peso negativo, como o aumento da inflação ou os juros mais elevados do cheque especial. Já no campo subjetivo, podem influir a sensação de que o desemprego subirá e o temor de que será mais difícil concretizar algum projeto.
— Mesmo sem a piora dos fatores objetivos, os consumidores tendem a se preservar quando o clima é de maior pessimismo. Eles cortam gastos e reduzem o consumo. É um círculo vicioso, porque o consumo menor afeta a economia real — explica Silvio Paixão, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).
Para Paixão, o desalento em relação à economia embute um risco real. Segundo o acadêmico, as pessoas tendem a buscar uma solução ou alguém que possa resolver o problema. Isso abriria espaço para os discursos e promessas que não possuem fundamentos econômicos, mas que podem ganhar adeptos.
— Chamo isso de caminho da inconsequência, em que a população escuta e discute propostas que podem não ter fundamentos; mas ela escuta porque precisa de uma solução — argumenta Paixão.
O economista-chefe do Banco Espírito Santo (BES) Investimentos, Jankiel do Santos, avalia que há um clima generalizado de reclamações, tanto dos consumidores quanto do setor empresarial e financeiro, o que aumenta a sensação de que as coisas vão piorar.
— Vira uma reclamação generalizada, mesmo sem ter grandes alterações na economia — diz Santos, lembrando que a inflação, que no acumulado de 12 meses encerrados em maio chegou a 6,37%, está em patamar similar ao registrado há um ano. — A inflação contribui para esse clima, mas já estava alta.
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