FLÁVIO TAVARES, JORNALISTA E ESCRITOR, ZERO HORA 14/08/2011
Existe um período na infância em que as crianças são capazes de inventar e fantasiar sobre tudo, juntando coisas impossíveis com admirável perfeição de detalhes. É a idade da fabulação. Minhas netas Ana e Isabel contam-me de nuvens que penetram no mar, como submarinos, e de bosques voando pelo céu, como foguetes, sem nunca terem visto submarino ou foguete. Se eu lhes pedir, porém, que inventem histórias de ladrões e larápios, nem elas nem as amiguinhas (que fabulam ainda mais) conseguirão sequer aproximar-se da realidade das fraudes e roubos que começam a desmascarar-se no serviço público, Brasil afora.
A cadeia de corrupção surge pujante, guiada por ministros, secretários, altos funcionários, parlamentares, prefeitos, vereadores, numa rede expansiva, sempre com alguém escondido “lá no alto”. Por exemplo, a devastadora roubalheira no Ministério dos Transportes (feudo do PR) repete-se no Ministério da Agricultura (feudo do PMDB), como se fossem irmãos siameses. O Dnit dos Transportes é a Conab da Agricultura, com a elite da escória dedicada ao assalto.
A única diferença é o tratamento: o governo mandou “blindar” o ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Além de ser do PMDB (com o poder de barganha de 20 senadores e 78 deputados), ele é homem do vice-presidente Michel Temer. E, contra mau-olhado e demônios afins, deram-lhe um banho de sangue de bode em bacia de lata em noite de lua cheia!
Até aqui, a imprensa descobrira a roubalheira. Agora, a própria Polícia Federal desmascarou fraudes milionárias no inocente Ministério de Turismo e prendeu 36 implicados. Um deles, o secretário executivo do ministério, Frederico Silva Costa, do PMDB, aparece num telefonema (gravado pela polícia) ensinando a um empresário do Amapá como montar uma “empresa de fachada” para simular prestação de serviços ao governo federal.
A linguagem do telefonema é direta, acintosa e sem rodeios, como mestre do baixo mundo do crime ensinando o cúmplice! Entre os presos, há gente do PT, do PMDB ou só dos cifrões. A investigação iniciou-se a partir de uma verba de R$ 4 milhões que a deputada Fátima Pelaes (do PMDB do Amapá e candidata ao Tribunal de Contas da União) destinou a uma ONG fantasma – o pomposo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável.
Nada disso comoveu o parlamento. Os líderes da “base aliada” do governo em Brasília, no entanto, acusaram o Ministério Público e o Judiciário de “abuso”. O ministro da Justiça irritou-se com o uso de algemas e mandou apurar “os responsáveis na Polícia Federal”, como se o crime fosse algemar, não outra coisa. O ministro do STF Marco Aurélio Mello também criticou o uso de algemas. E a ministra Ideli Salvatti acusou a imprensa de “armar um espetáculo”, já que as fraudes são do tempo do governo Lula...
Até a correta presidenta Dilma Rousseff preocupou-se com o uso de algemas na detenção dos implicados na fraude do Turismo. A energia com que atuou no escândalo dos Transportes atenuou-se agora, após o PMDB organizar uma frente com mais de 200 deputados da “base aliada” para obstruir as votações no Congresso. É uma retaliação às demissões nos ministérios de Transportes e Agricultura e à demora em liberar as “emendas” com que os parlamentares presenteiam os cabos eleitorais com verbas do Orçamento.
“O país virou delegacia de polícia e isso não pode ser”, atreveu-se a dizer o líder do PTB na Câmara Federal, criticando a devassa antes anunciada por Dilma.
Contra a escola de assalto ninguém piou!
A Sociedade organizada têm por dever exigir dos Poderes de Estado o foco da finalidade pública e a observância do interesse público na defesa dos direitos básicos e da qualidade da vida da população na construção de uma sociedade livre, justa e democrática. Para tanto, é necessário aprimorar as leis, cumprir os princípios administrativos, republicanos e democráticos, zelar pelas riquezas do país, garantir a ordem pública, fortalecer a justiça e consolidar a Paz Social no Brasil.
VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.
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