VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 13 de agosto de 2011

A MENSAGEM DO CANDANGO

EDITORIAL ZERO HORA 13/08/2011

No mesmo dia em que parlamentares da base aliada articulavam uma evidente chantagem política contra a presidente Dilma Rousseff, para inibir a faxina ética que ela começou a promover nos ministérios onde foram detectadas irregularidades, funcionários da Câmara dos Deputados que tentavam consertar uma goteira descobriram num desvão da casa emblemáticas mensagens deixadas pelos homens que construíram Brasília. Um dos registros anônimos, provavelmente escrito por um candango semi-letrado, encaixa-se com tanta perfeição no atual momento político do país que merecia ser transformado em artigo da Constituição:

“Si todos os brazileiros focem diginos de honra e honestidade, teríamos um Brazil bem melhor”.

A mensagem, descontados os compreensíveis atropelos gramaticais, é atualíssima, embora tenha sido gravada há cinco décadas. Aqueles homens simples que trabalharam dia e noite para erguer uma metrópole em meio ao cerrado do Planalto Central tinham o mesmo sentimento de brasilidade e o mesmo apreço à ética que têm hoje os cidadãos íntegros, cada vez mais preo-cupados com os rumos da política nacional. A questão levantada pelo operário merece reflexão profunda e novos questionamentos. Serão honrados os governantes que se submetem à barganha da troca de cargos na administração pública por apoio político? Serão honestos os parlamentares que representam a si mesmos e defendem apenas seus próprios interesses e de apadrinhados, quando possuem um mandato concedido pelos eleitores para representá-los? Serão dignos os homens públicos que tentam se apropriar do Estado em vez de administrar e legislar em nome do povo e em atendimento às suas demandas?

O próprio presidente da Câmara, deputado Marco Maia, admitiu que as mensagens dos candangos foram deixadas para os legisladores atuais. Outra delas, assinada por José Silva Guerra, parece mesmo premonitória e dirigida aos parlamentares:

“Que os homens de amanhã que aqui vierem tenham compaixão dos nossos filhos e que a lei se cumpra”.

Por intrigante coincidência, um desses legisladores, também egresso da camada menos instruída da população, o deputado Francisco Everardo Oliveira Silva, conhecido por Tiririca (PR-SP), manifestou esta semana o seu espanto com o trabalho na Câmara, que classificou de “fábrica de loucos”. Sua conclusão, depois de oito meses de mandato, é de que o deputado “é uma pessoa que trabalha muito e produz pouco”. Observou ainda que os deputados passam madrugadas em discussões intermináveis, mas ninguém escuta ninguém: “Um deputado fala e ninguém presta atenção nele”.

Pelo jeito, os candangos mensageiros intuíam o que viria a acontecer nos prédios que estavam construindo. Brasília, hoje reconhecida pela ONU como Patrimônio Histórico da Humanidade, principalmente devido às obras assinadas pelos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, tem sido apontada também como símbolo nacional do desperdício, da leniência e da corrupção. Mas a cidade é inocente: os homens e mulheres que a habitam é que devem ser responsabilizados pelo que de bom e mau acontece lá. Não se pode fixar o olhar apenas nos perversos, sejam eles homens do povo ou ocupantes de palácios, parlamentos e tribunais. A população brasiliense é representativa do país. Também é formada por pessoas honradas, íntegras, trabalhadoras e bem-intencionadas como os operários que ergueram a cidade, pedra por pedra, e ainda tiveram a sabedoria de gravar mensagens éticas para as próximas gerações. Talvez o candango anônimo, autor do recado em epígrafe, fosse apenas um sonhador, mas não custa cruzar os dedos e desejar que um dia todos os brasileiros sejam realmente dignos, honestos e honrados, em Brasília e nas demais cidades deste Brasil com S que tanto amamos.

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