VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 6 de agosto de 2011

TELHADO DE VIDRO


"Todos os partidos têm telhado de vidro". Peça-chave do escândalo do mensalão, o presidente do PTB diz que os políticos já perderam a cautela na busca por financiadores de campanha - por Claudio Dantas Sequeira e Octávio Costa - REVISTA ISTO É, N° Edição: 2178 | 05.Ago.11 - 21:00 | Atualizado em 06.Ago.11 - 11:05

Desde que surgiu como um personagem central do escândalo do mensalão, em 2005, o ex-deputado federal Roberto Jefferson tornou-se uma espécie de especialista em esquemas de corrupção em Brasília. Agora, mesmo sem mandato parlamentar, o presidente nacional do PTB está acompanhando de perto as denúncias sobre partidos da base aliada no governo Dilma Rousseff. Com o know-how e a desenvoltura de quem já pontificou num escândalo histórico, ele diz não ver semelhança entre esses casos recentes e o mensalão. Em entrevista à ISTOÉ, Jefferson afirma que o PT “rompeu limites éticos”, sendo o primeiro partido a usar a máquina pública para captar recursos. “Hoje todos os partidos têm telhado de vidro”, acredita. Para ele, que considera normal o “loteamento político”, está fazendo falta uma certa etiqueta: “Não pode é pôr o partido dentro do ministério para captar.” O ex-deputado faz elogios à ação de limpeza da presidente Dilma, mas garante que o PTB não quer nada em troca. “Vamos aju­dá-la a atravessar essa tempestade, sem pedir contrapartida.” Se demonstra boa vontade com a presidente, Jefferson fica exaltado ao falar sobre o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no STF. Tem certeza de que Barbosa pedirá sua condenação. E desde já sai atirando: “O Joaquim Barbosa não é um homem do Tribunal, ele quer aplauso em botequim.” Apesar do ataque ao relator, o ex-deputado reconhece que cometeu delito eleitoral de caixa 2. Mas não aceita a acusação de corrupção e lavagem de dinheiro.

ISTOÉ - O sr. acredita que essas denúncias que derrubaram a cúpula do Ministério dos Transportes são sinais de um novo mensalão?

ROBERTO JEFFERSON - Não. Aquele esquema que o PT montou para comprar apoio parlamentar morreu. Como o PT não queria dividir o poder com ninguém, preferia pagar para ter apoio nas votações. Com o PTB e os outros partidos a conversa era de aluguel mesmo. Já outra coisa era o João Paulo Cunha, que, sendo do PT, não precisava receber dinheiro para votar com o governo. Ele sacou do esquema do Marcos Valério para quitar dívidas de campanha. Hoje em dia a sociedade está mais atenta. No caso do PR, o mais provável é que o partido estava fazendo caixa.

ISTOÉ - Para quê?

ROBERTO JEFFERSON - Pagando dívidas de campanha ou fazendo caixa para as eleições, pois não se ganha eleição neste país sem estrutura.

ISTOÉ - E isso não é corrupção?

ROBERTO JEFFERSON - Não quero usar uma expressão tão violenta. É uma atitude mais pragmática. A Dilma já deixou claro que não compactua com esse tipo de ação política. Já o Lula era mais tolerante e o PT, mais condescendente. Dilma é diferente. Ela não suja a sacristia.

ISTOÉ - Todo partido que ocupa um ministério faz o mesmo?

ROBERTO JEFFERSON - Bem, não posso dizer que todos fazem, mas a maioria faz. E sem cautela. É preciso entender que a relação de partidos com empreiteiras e outros agentes que compõem interesses do governo é algo natural. É assim que funciona o mundo. A questão é ter equilíbrio. Não pode é o deputado despachar de dentro do ministério. Isso é um equívoco absoluto.

ISTOÉ - Se há loteamento político dos ministérios e estatais, qual é o limite dos partidos?

ROBERTO JEFFERSON - Se o empresário quer ajudar o partido, tudo bem, vai lá e faz a doação. Não pode é botar o partido dentro do ministério para captar. Há um limite ético que foi rompido lá atrás pelo PT. Hoje todos os partidos têm telhado de vidro. O PR errou porque perdeu a cautela. A presença do presidente de honra do partido, o deputado Valdemar Costa Neto, dentro do ministério presidindo licitação é uma burrice sem tamanho.

ISTOÉ - A presidente Dilma Rousseff tem optado pela nomeação de técnicos para evitar o uso da máquina por partidos e políticos. O sr. concorda?

ROBERTO JEFFERSON - Vejo que a presidente Dilma quer acertar. Ela repete um pouco o que fazia o Fernando Henrique Cardoso: “Eu nomeio o ministro de vocês, mas se surgir qualquer problema ele será demitido!” Despolitizar os ministérios não é a melhor solução, pois o político é muito mais sensível à crítica da imprensa do que o burocrata. O político, quando encaminha uma emenda para alguma obra, faz isso de forma pública. O técnico, não.

ISTOÉ - Profissionalizar a gestão não é o ideal?

ROBERTO JEFFERSON - Claro que sim, mas sem tirar a política disso. Eu temo o discurso que a mídia está fazendo de só colocar técnico. Já foi assim na ditadura. Acontece que os burocratas também se corrompem e, às vezes, denunciam os políticos porque têm interesse no conflito.

ISTOÉ - O financiamento público de campanha ajudaria a evitar esses esquemas de corrupção?

ROBERTO JEFFERSON - Financiamento público é um escândalo. Sou contra. Defendo é que se pare de bater no financiador privado, que hoje é visto como bandido. O doador privado tem presunção de culpa. É preciso entender que não existe almoço grátis, nem na relação entre marido e mulher. Manda a mulher negar amor ao marido durante um mês para ver se ele paga as contas dela!

ISTOÉ - O sr. impôs uma quarentena ao PTB?

ROBERTO JEFFERSON - Tivemos um desentendimento grande com o PT. Tem que passar um tempo para as coisas se restabelecerem. Está muito cedo ainda. Mesmo de fora, acredito que podemos ajudar Dilma, que tem tido uma conduta irrepreensível. Ela tem moral e dignidade, merece nosso apoio. Vamos ajudá-la a atravessar essa tempestade, sem pedir contrapartida.

ISTOÉ - A tempestade a que o sr. se refere é o risco de retaliação e um eventual racha na base aliada?

ROBERTO JEFFERSON - Ela pode receber esse troco. Lógico que ninguém vai passar recibo público, bater boca por causa da perda de cargo. Mas ela pode sofrer um revés em alguma questão delicada que vá a plenário.

ISTOÉ - O PTB apoiaria uma CPI dos Transportes?

ROBERTO JEFFERSON - Nunca! Tenho horror a CPI. Só serve para politizar o fato. A CPI vai paralisar o governo da Dilma, vai fraturar a base de apoio, gerar ressentimentos e torná-la refém do PT. Ela precisa de apoio para governar, ou vai ficar nas mãos do PT.

ISTOÉ - Mas, se a Polícia Federal não abre um inquérito, a CPI não seria uma saída para esclarecer as denúncias?

ROBERTO JEFFERSON - A PF não abre inquérito porque não tem elementos para isso. A própria Dilma já reconheceu que nem todos os demitidos são culpados. É preciso um fato jurídico relevante para que a PF investigue. Além disso, a Dilma não vai a lugar nenhum com um governo policial. O que ela precisa é de um novo articulador. Ela perdeu o Antônio Palocci, e nem a Gleisi Hoffmann ou a Ideli Salvatti são habilitadas para essa função. Falta um algodão entre cristais.

ISTOÉ - Recentemente, a Procuradoria-Geral da República apresentou seu parecer final sobre o mensalão, pedindo a condenação de 26 réus. O sr. acredita no julgamento?

ROBERTO JEFFERSON - Penso que o processo está indo bem, apesar de o ministro-relator Joaquim Barbosa ter faltado muito e atrasado os trabalhos. Ele era o presidente do inquérito, mas faltava, faltava e faltava. Tanto que o STF se reuniu e falou para ele: “Volta a trabalhar ou fica no botequim.” Ele faltava com dor de coluna, mas aparecia no botequim. E depois botava a culpa no processo democrático da defesa. Mas acho que agora está chegando a bom termo. O procurador-geral Roberto Gurgel apresentou suas alegações finais e as defesas estão agora fazendo as suas. Vai ter muita gente condenada.

ISTOÉ - O sr. teme ser condenado?

ROBERTO JEFFERSON - Me preocupo por causa do Zé Dirceu, pois fui cassado para satisfazer um acordo entre o PSDB e o PT. Eles precisavam dar uma cabeça de cada lado. Cometi um delito eleitoral ao fazer caixa 2? Sim, e nunca neguei isso. Mas me acusar de corrupção e lavagem de dinheiro não tem fundamento. O problema é que a condenação criminal é moral, e isso não aceito. Até porque eu avisei os ministros do Lula um ano antes. Falei com o Miro Teixeira, o Ciro Gomes, o Aldo Rebelo...

ISTOÉ - O sr. não deveria ter levado o caso ao Ministério Público, antes de levar ao governo?

ROBERTO JEFFERSON - Tenho aversão ao Ministério Público. São uns burocratas que se acham mais do que os outros. É a turma do decoreba que quer botar o dedo no nariz do povo do Brasil. Há um sentimento hoje no MP de denunciar qualquer notícia, de destruir reputações. Todo promotor quer pendurar a cabeça de um político na sua coleção de troféus. Ajudei muito a construir esse modelo de Ministério Público que está aí, e me arrependo profundamente. Fizemos uma casa de fascistas.

ISTOÉ - Voltando ao caso do mensalão. O sr. espera um julgamento técnico no Supremo?

ROBERTO JEFFERSON - Ah, espero sim. O problema é que tenho uma visão muito particular sobre o relator. Penso que ele não sentencia para o direito, mas joga para a galera. O Joaquim Barbosa não é um homem do Tribunal, ele quer aplauso em botequim. Ele se coloca acima dos demais ministros, como se fosse corregedor. Mas não acho que seja um grande jurista. Tenho para mim que foi para o STF na cota racial e não por notório saber jurídico. Quer ser político, atravesse a rua, inscreva-se num partido e vá disputar uma eleição. Fazer demagogia com sentença é golpe baixo.

ISTOÉ - O sr. acha que o Lula sai candidato em 2014?

ROBERTO JEFFERSON - Penso que sim. E acho que a Dilma devia assumir isso. Dizer que não é candidata à reeleição e que seu compromisso é com a reforma eleitoral e a reforma tributária. Era uma maneira de ela se liberar dessas pressões pequenas, sem se render ao toma lá da cá da política.

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