VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

domingo, 28 de agosto de 2011

GAUCHADA - DISCÓRDIA AFETA ECONOMIA

Atmosfera de discórdia afeta economia - MARTA SFREDO, ZERO HORA 29/08/2011

Quando Ronald Krummenauer, secretário executivo da Agenda 2020, é chamado a falar em outros Estados, derruba a tese de que metade dos gaúchos é colorada e a outra, gremista.

– A divisão no Estado é de 90% a 10% – costuma dizer, sabendo que será interpretado como alguém que se expressa como torcedor de um dos times.

Depois de saborear o suspense, explica:

– São 45% antigremistas e 45% anticolorados, mais 10% divididos entre gremistas e colorados.

Identificar-se por oposição está na raiz do que Krummenauer aponta como a “cultura do derrotismo”: importa menos que seu time – ou tese – ganhe, e mais que o adversário perca. O problema é que ser “anti” não marca só a atitude no esporte, mas na política, na cultura e no convívio cidadão. Além de atrapalhar a construção de um projeto de Estado, substituído por sucessivos – e, com frequência, opostos – programas de governo, esse traço determina a existência de “diferentes governanças”, avalia o especialista.

– O Estado tem o maior número de iniciativas para o desenvolvimento, como nas áreas de qualidade, inovação e planejamento, mas isoladas.

Com a experiência de ter passado pelo governo, como secretário do Planejamento, associada a décadas de produção acadêmica, o economista Claudio Accurso diagnostica:

– Essa descontinuidade é uma tragédia. Cada vez que alguém chega no setor público, é como se tudo começasse ali. Não há história.

O que mais impressiona Accurso é que a disputa se dá em torno de recursos escassos, não apenas em finanças mas em capacidade de decisão:

– Quando a gente senta na cadeira de secretário se dá conta da limitação em que está metido.

Perscrutando as contas públicas do Estado há 20 anos, Darcy Francisco Carvalho dos Santos vê no conflito barulhento uma das causas pelas quais o Rio Grande do Sul não conseguiu superar o modelo de financiamento dos anos de inflação. Enquanto atrasava o pagamento de fornecedores para aplicar o dinheiro em troca de gordos rendimentos para sustentar o investimento público, havia recursos para manter estradas e bons níveis educacionais e de atendimento à saúde. Nos últimos anos, porém, é outra a sólida posição no ranking que relaciona a receita disponível e o volume de investimentos: a última entre os 27 Estados (veja gráfico ao lado).

– Se a gente chegou a esse nível de despesa é porque cada parte quer pegar mais do que é possível – simplifica Darcy.

Filho de um gaúcho notável, que batiza o centro administrativo do Estado, mas nascido e criado no Rio de Janeiro, o economista Fernando Ferrari Filho confessa ter sofrido “choque cultural” ao desembarcar no Rio Grande do Sul na década de 80. Constantes conflitos, acirrado embate ideológico e o hábito enraizado de se ver como um ente “à parte” do Brasil, avalia ele, criam um certo desconforto nos agentes que pensam em investir por aqui.

Para apaziguar ânimos e desatar nós, Krummenauer aposta no aumento da participação da sociedade civil organizada, como forma de contornar interesses corporativos e parciais. Além da própria Agenda 2020, aponta a criação do Conselhão como um passo nessa direção. Accurso recomenda outros dois caminhos: definir prioridades, admitindo que não há recursos para fazer tudo, e adotar instrumentos de controle de gestão.

– Temos de sair do “eu penso”, “eu acho”. É muita conversa. O Estado tem de ser conduzido com indicadores objetivos – aconselha Accurso.

A frustração de quem tentou - PAULO GERMANO

Na política, os exemplos são fáceis: a ex-primeira-dama Neuza Canabarro sentiu-se “agredida da forma mais vil e baixa” e o ex-secretário Mateus Bandeira pensou em “jogar a toalha”. Os dois criaram projetos que abalariam a vida de milhares de pessoas – por isso enfrentaram reações tão fortes –, mas o maestro Isaac Karabtchevsky só queria um teatro. Acabou indo embora.

Gozando de renome internacional, um dos maiores regentes do país deixou em 2010 a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, exausto com a paroquial controvérsia que emperrava a construção de uma nova sede para a Ospa. Ele chegara sete anos antes, celebrado como salto cultural.

– Em todos os locais onde trabalhei, no Brasil e na Europa, nunca havia presenciado tanta resistência a uma iniciativa cujo único objetivo era qualificar o contexto cultural – lamenta o maestro, hoje na Petrobras Sinfônica, no Rio.

Karabtchevsky esperou em vão sete anos, período em que moradores e ambientalistas protestaram contra a edificação nos dois terrenos cogitados para o teatro: primeiro, porque o trânsito incomodaria a vizinhança do Shopping Total; depois, porque a área verde minguaria no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. Ele admite ter ficado abalado quando deixou a Ospa em 2010, ano em que o então secretário do Planejamento, Mateus Bandeira, viu seu entusiasmo desmoronar:

– Quando percebi, tinha virado inimigo de todo mundo. Naquele dia, pensei em jogar a toalha.

Bandeira se refere a um sábado em que abriu o jornal em casa: sindicalistas do magistério e da BM o classificavam como “inimigo número 1”. Além de defender a meritocracia (repudiada pelas corporações), o secretário penava para atender as exigências salariais das categorias.

Mas o rótulo de desafeto o surpreendeu. Dias antes, ele havia comprado briga com o Judiciário justamente por apontar professores e brigadianos como prioridade nos reajustes, empurrando para depois os altos salários.

– Pensei: “Tá na hora de pendurar as chuteiras, não agrado a ninguém”.

Nelson Proença sabe o que é isso. Secretário do governador Antônio Britto (1995-1998), ele diz que medidas polêmicas como as privatizações só foram possíveis porque “a gente sabia que nos custariam a eleição”:

– Éramos hostilizados na rua, os filhos eram maltratados na escola, era um troço muito duro.

Neuza Canabarro, secretária da Educação de Alceu Collares (1991-1994) faz coro, diz que os filhos “sofreram incrivelmente” quando ela implantou o calendário rotativo. Achincalhada pela oposição, só voltou à política em 2005 – retornando à guerra que ainda impera.

PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA. Colaborou Aline Mendes - Nossas façanhas

Tente imaginar uma causa que tenha unido os gaúchos nos últimos anos em um caso de unanimidade inteligente. Pensou no Polo Petroquímico? Não foi. Havia resistências ao investimento, sim, senhores. Argumentos? Ameaças ao meio ambiente, risco de chuva ácida e outros fantasmas que jamais se materializaram. O trensurb? Havia quem achasse a obra desnecessária. O metrô pelo qual Porto Alegre espera? De jeito nenhum. Tem gente que é contra porque acha a rota escolhida inadequada, ou porque prefere os ônibus, ou porque durante a construção o trânsito vai ficar mais caótico na Assis Brasil, ou porque o prefeito José Fortunati pode ficar com o crédito.

As redes sociais e a facilidade para expressar opinião em tempo real tornaram mais visível a face briguenta do gaúcho e sua resistência às mudanças. Não por acaso, o Rio Grande do Sul é campeão de demandas judiciais e de recursos aos tribunais superiores. A capacidade do gaúcho de ser contra as inovações já se tornou folclórica. Até a recente adoção de contêineres para a colocação do lixo virou polêmica, com restrições à cor, ao tamanho, ao material e ao processo em si.

Ai de quem tentar construir um edifício de 50 andares no Rio Grande do Sul, mesmo que o autor do projeto comprove que vai reservar 80% da área do terreno para jardins. Nossa cultura rejeita os arranha-céus, mas não se incomoda com um blocão de concreto com mil apartamentos – desde que o prédio seja baixo.

Na política, a cultura do conflito só tem produzido desastres. É raro governo e oposição se unirem por uma causa maior do Estado. Nem a segunda ponte do Guaíba ou a duplicação de estradas essenciais ao escoamento da produção conseguem unir os gaúchos em um movimento capaz de mostrar força ao governo federal.

Se fosse preciso escolher um símbolo dessa resistência, o episódio da mudança de endereço da estátua do Laçador seria perfeito. Por coincidência, a estátua símbolo do Rio Grande do Sul. A mudança era necessária para construção de um viaduto, o novo endereço tinha vantagens em relação ao anterior, mas a turma do contra se movimentou para tentar impedir a remoção. Não adiantava dizer que no seu novo sítio os turistas poderiam fotografar o Paixão Côrtes de bronze, coisa impossível quando estava plantado no meio de uma avenida movimentada.

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