EDITORIAL
Não é a primeira vez, pois já houve presidente da Câmara que lotou um avião presidencial para visitar os grotões do seu estado natal. Alguns, não se sabe exatamente se para debochar ou citando uma realidade, afirmam que a corrupção existe no Brasil há 513 anos, ou seja, desde o Descobrimento. Mas os brasileiros são sacudidos, agora semanalmente, por casos em que ficam assombrados com a desfaçatez dos que praticam deslizes grosseiros e com as respostas quando são flagrados. Os presidentes da Câmara e do Senado, ao usarem aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), gozando, erradamente, de suas prerrogativas, deixam à mostra a fragmentação do ego que está ligada à política nacional. Nela, tudo indica, existe uma disparidade entre a parte psicótica da personalidade e a não psicótica de pessoas públicas, de tal forma que, finalmente, a diferença entre ambas se torna intransponível. Franz Kafka afirmava que crer no progresso não significa que já tenha ocorrido qualquer progresso.
No caso da vida pública brasileira, a ética como primazia, ainda que em atitudes legais, caso do uso dos aviões da FAB, sempre fica em segundo plano. Pagar o preço das passagens não atenua coisa alguma eticamente falando. O ato de usar aviões oficiais para viagens absolutamente particulares e ainda levando parentes e amigos ficou lá, indelével, marcado.
Parece que, para algumas autoridades - e não é de hoje nem deste ou daquele partido - elas se movem não em um mundo de sonhos, mas, sim, em um mundo em que seus desejos, sempre que atendidos, constituem a realização dos sonhos. Suas impressões éticas sofrem uma forma de mutilação na base da própria satisfação, sem importar o todo, a consciência coletiva, o sofrido povo brasileiro. Certos políticos parecem prisioneiros de um estado mental de alienação social, incapazes de evadir-se dele, porque lhes falta o aparelho psíquico de percepção da realidade do País em que vivem, com seus problemas crônicos, frases e promessas repetidas, mas jamais cumpridas, e a impunidade sistemática obtida nas filigranas jurídicas que permeiam os códigos penais. A reforma política, por exemplo, está há 15 anos à espera de votação. E só deverá sair o tal de plebiscito em 2014.
Se os políticos que cometem deslizes tivessem a percepção da realidade brasileira, encontrariam a chave que lhes permitiria a liberdade de agir eticamente sempre e isso os libertaria - pois a verdade sempre liberta -, e seria o caminho natural para onde se abrigariam. É enjoativamente repetitivo ficar analisando casos de corrupção, inclusive os que estão ocorrendo, lamentavelmente, de maneira corriqueira também aqui no Estado, Porto Alegre no meio, mas não se pode fugir da notícia. Até porque um problema bem identificado é um problema metade resolvido, segundo os melhores analistas. A questão que se coloca, entretanto, é que estamos identificando, denunciando, reclamando e clamando por soluções de problemas há muitos anos e o que vemos são apenas repetições, com uma ou outra novidade, geralmente tecnológica, no modo de operação das fraudes ou da falta de ética.
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