REVISTA ISTO É N° Edição: 2355 17.Jan.15 - 13:18
EDITORIAL
Mário Simas Filho, diretor de redação
Não se trata de olhar para o retrovisor, mas as iniciativas do segundo governo de Dilma Rousseff neste começo de ano obrigam qualquer brasileiro minimamente informado a se recordar da campanha eleitoral de 2014. Como ouvir o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, dizer que pretende aumentar o Imposto de Renda das pequenas empresas sem se lembrar da disputa eleitoral? Não era a então candidata Dilma que não se cansava de repetir que aumentar impostos era uma especialidade dos tucanos? E mais, não era a candidata Dilma quem dizia que os seus opositores seriam responsáveis por políticas tributárias que oneram os trabalhadores e privilegiam as grandes fortunas e o sistema financeiro? Pois bem, no café da manhã que tomou com jornalistas, na terça-feira 13, o ministro Levy explicitou que o aumento do Imposto de Renda que vem sendo trabalhado tem como alvo os prestadores de serviços que recebem como pessoa jurídica. Ou seja, o aumento do imposto poderá atingir exatamente o trabalhador que vive exclusivamente do fruto de seu trabalho e que, na condição de PJ, paga entre 4% e 4,5% de imposto, em vez dos até 27,5% pagos pelos assalariados. O ministro, pelo menos no café da terça-feira, não fez nenhuma indicação de rever a tributação sobre a especulação financeira, a remessa de lucros para o Exterior, as grandes fortunas, etc.
As notícias dadas pelo ministro Levy são apenas mais um ato do segundo mandato de Dilma que nos remete à campanha eleitoral – pela qual o ministro, diga-se de passagem, não teve a menor responsabilidade. A montagem do governo já indicava que poderia se esquecer tudo o que fora prometido na disputa pelo voto. O loteamento dos cargos e dos gabinetes da Esplanada dos Ministérios seguiu a lógica de um toma lá da cá explícito, depois vieram as promessas de cortes e a constatação de que uma das áreas mais atingidas será a da Educação. Mas, não era a candidata Dilma que se colocava, durante a campanha, como a única capaz de arrumar a economia sem comprometer o social? E educação não faz parte do “social”? Quando colocados diante de tais questões, governistas entoam o discurso de um hipotético terceiro turno. O problema, no entanto, não é esse. O que precisamos é a prática de um governo coerente, senão com as promessas de campanha, pelo menos afinado entre si. Como bem diz Frei Betto, um dos ícones do PT, na entrevista desta edição de ISTOÉ, esse governo só parece trabalhar em harmonia quando é para tomar atitudes que prejudicam os que mais precisam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário