ZERO HORA 13 de janeiro de 2015 | N° 18041
EDITORIAL
Previsões de que o pleno emprego está ameaçado exigem, sem saídas artificiais, a retomada do diálogo entre governo, empresas e sindicatos.
Manifestações de metalúrgicos do ABC paulista contra demissões nas montadoras chamam atenção para um cenário que espreitava a paralisia da economia e as indecisões do governo. Ganha forma a amea- ça concreta a um dos grandes trunfos dos avanços econômicos de pelo menos uma década e meia. O pleno emprego, que o país chegou a manter mesmo com a crise financeira de 2008, corre o risco de esgotamento, como decorrência dos equívocos acumulados e que somente agora começam a ser corrigidos pelo Executivo. A mais recente Sondagem da Indústria de Transformação, da Fundação Getulio Vargas (FGV), revela que o comportamento padrão é mais de demissões do que de contratações, após a redução de 3,2% nas atividade do setor, de janeiro a novembro, e das perspectivas não muito alentadoras deste início de ano.
Análises mais resignadas podem sugerir que governo, empresas e trabalhadores terão de se contentar com a expectativa de recuperação do ambiente de confiança e, mais adiante, desfrutar naturalmente a realimentação do pleno emprego. Mas é possível, sem comprometer as bases da nova orientação econômica, adotar medidas para que o impacto das demissões seja amenizado, sem saídas artificiais e sem a submissão do governo a um suposto plano das montadoras de forçar a vigência por mais tempo de benefícios fiscais que favoreceram a venda de carros por um bom tempo. Os ministérios da área, as empresas e os sindicatos poderiam restabelecer, nesse e em outros setores, um diálogo desativado exatamente pela queda do desemprego.
São conhecidos os mecanismos capazes de adiar demissões, até que a economia perceba os sinais emitidos pelas decisões lideradas pelo senhor Joaquim Levy e comece a reagir. Férias coletivas, licenças temporárias remuneradas, redução de jornada, banco de horas e até mesmo dispensas voluntárias – que podem contribuir para a racionalização das decisões – são recursos à mão das empresas.
O que se deseja, principalmente em áreas de ocupação em massa, com repercussão em atividades a elas conectadas, é que todos esses instrumentos sejam usados sem parcimônia. Equilibrar as contas públicas, controlar inflação e calibrar juros e câmbio são medidas relevantes para que o país restabeleça a confiança e saia da estagnação. É uma caminhada que pode e deve evitar grandes traumas. Defender o pleno emprego é preservar níveis de renda que deram dinamismo ao mercado interno.
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