ZERO HORA 25 de janeiro de 2015 | N° 18053.
INFORME ESPECIAL | Tulio Milman
Eu posso escolher quem eu quiser. A frase da deputada Marisa Formolo revela o poder destrutivo da grande praga que nos assola. Misturar o público e o privado é uma epidemia nacional. A entrega de 20 medalhas a parentes, promovida pela deputada, é um exemplo explícito dessa patologia. Pior: o episódio é tão grotesco, que nos obriga a dizer o óbvio.
Não. A deputada não pode escolher quem ela quiser. Ela é um agente público. Deveria escolher alguém que representasse alguma coisa para o Estado e para os seus eleitores. Para a família, existem os encontros de domingo e as ceias de Natal. Uma coxa de peru para um, um pedaço do peito para o outro. Medalhas? Na Assembleia? É patético.
Gosto de ideia de homenagear uma família. Mas a de alguém que morreu pela falta de policiamento ou a de algum cidadão que espera meses na fila do SUS.
O que mais me surpreende nesse enredo deplorável é o fato de ninguém ter conseguido convencer a deputada de que ela estava empurrando a própria reputação no abismo. Onde estavam as amigas? Os colegas de bancada? E esses familiares? Não cumpriram com o dever básico de lealdade, que é evitar o vexame de alguém tão próximo.
Não discuto aqui a qualidade humana e a honestidade dos homenageados. Mas o episódio todo é um deboche. Se tivesse o mínimo de autocrítica, a deputada pediria desculpas e pagaria do próprio bolso todas as despesas do absurdo que protagonizou.
E daria uma medalha a cada um dos seus eleitores. Esses, sim, merecem.
O gesto amenizaria em parte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário