VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

sábado, 3 de janeiro de 2015

O EXEMPLO DAS CIGARRAS



ZERO HORA 03 de janeiro de 2015 | N° 18031



SERGIO LEWIN



Qualquer criança uma vez na vida perguntará aos seus pais por que o governo, que tem a máquina de fabricar a moeda, não a utiliza de forma generosa, distribuindo dinheiro e proporcionando riqueza a todos. Os pais responderão de forma mais intuitiva do que técnica. Sem se deter nos efeitos macroeconômicos da expansão da base monetária, eles explicarão que não existe tal coisa como o dinheiro fácil. Para ilustrar melhor, se socorrerão da fábula da formiga e da cigarra, mostrando que o único caminho para a construção da riqueza é o trabalho, o resto são manobras e pirotecnias para tentar ganhar a vida na esperteza.

Se essa criança, contudo, formular essa mesma questão a algum político ou economista, poderá escutar uma resposta bem diferente. Dependendo de sua formação, este dirá que a necessidade do equilíbrio das contas públicas é uma invenção dos conservadores, os mesmos que, por insensibilidade social, barram o aumento do salário mínimo, os benefícios ao funcionalismo público e maiores verbas para os programas assistenciais. Ante a divergência de respostas, a criança ficará bastante confusa, porém, se conversar com qualquer adulto que viveu durante os anos 80, saberá que não existe contradição entre estabilidade e desenvolvimento, pelo contrário, a inflação prejudica sobretudo os mais pobres. Saberá também que houve um grande esforço para debelá-la e colocar as contas em dia, inclusive para aprovar uma lei – chamada Lei de Responsabilidade Fiscal – instituindo a obviedade de que os governos não podem gastar ilimitadamente.

Agora, a flexibilização desta lei, aprovada em troca de recursos para as bancadas federais, elimina a última resistência ao descontrole dos gastos e pavimenta o retorno aos tempos sombrios do populismo fiscal. Fomos ensinados pelos nossos pais que não existem atalhos e que, se quisermos sobreviver ao inverno, temos que produzir o nosso próprio sustento e não esperar que as formigas o façam por nós. A mensagem que os economistas ditos progressistas e o governo brasileiro querem passar é que tudo isso é uma grande falácia, o dinheiro pode ser obtido de forma bem menos penosa do que trabalhando, as cigarras estão aí para nos ensinar como. E quando por fim o sistema entrar em colapso, sempre se poderá dizer que as formigas só pensam nelas ou não estão trabalhando o suficiente.

Advogado

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