REVISTA ISTO É N° Edição: 2356 | 23.Jan.15 - 20:00 | Atualizado em 24.Jan.15 - 15:56
Por que eles querem tanto essa cadeira. Em meio a suspeitas de armação, disputa pela presidência da Câmara assume ares nada republicanos. Em jogo, um orçamento de R$ 5 bilhões e um amplo poder de articulação política
Izabelle Torres
SEMANA DECISIVA
O deputado Eduardo Cunha (ao centro) permanece como favorito na
disputa, mas o Planalto trabalha fortemente nos bastidores para eleger o petista
Arlindo Chinaglia (primeiro à esq.). Júlio Delgado, apoiado pelo PSDB, tenta correr por fora
Nos últimos dias, a disputa pelo comando da Câmara assumiu contornos de baixaria. Em meio à refrega, o candidato favorito, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que enfrenta Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG), insinuou que o PT e o governo estariam por trás de uma armação destinada a evitar sua ascensão ao posto – o segundo na linha sucessória do presidente da República. A ideia seria envolvê-lo em denúncias e, assim, prejudicar sua campanha. Para sustentar sua tese, o peemedebista apresentou uma gravação contendo uma suposta conversa entre um aliado dele e o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, apontado pelas investigações da Operação Lava Jato como colaborador do doleiro Alberto Youssef. Na conversa, ele é citado. A voz pausada, a linguagem formal dos interlocutores e algumas incongruências no diálogo deram um ar de montagem à escuta feita pela PF, agora sob investigação. “Sou vítima de alopragem mais uma vez”, acusou.
Desde o início da disputa, o governo nunca escondeu sua insatisfação com a eleição à presidência da Casa do polêmico e instável Cunha – um político cujo lado em que se posiciona depende das conveniências políticas do momento. Desta vez, no entanto, a ser verdadeira a denúncia do parlamentar, a jogada teria ultrapassado os limites republicanos. O afã com que os candidatos se lançam na disputa – o próprio Cunha fez um périplo pelo País e uma série de jantares para cabalar votos – e a contundência com que os concorrentes agem para impedir os adversários de alcançar o posto estão diretamente relacionados ao poder que a ascensão à principal cadeira da Câmara pode proporcionar ao eleito. A cadeira de presidente permite ao seu ocupante a rara possibilidade de negociar e dar cartas nos rumos políticos do País. A eleição à presidência da Câmara representa a aquisição de um poder político instantâneo, de benesses incontáveis e a prerrogativa de administrar um orçamento de R$ 5,2 bilhões, valor previsto para 2015. Verba nada desprezível. O eleito também comandará 33 contratos com empresas terceirizadas, chefiará 16 mil servidores, terá direito a viver por dois anos na residência oficial da Câmara e de ter um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) à disposição, além de carros oficiais e seguranças exclusivos.
Também é relevante o poder de articulação que o presidente da Casa dispõe. Por exemplo, quem for eleito no dia 1º de fevereiro ganha automaticamente o direito a dar a palavra final sobre a pauta de votações. Pode até, se quiser, embora não seja o caso no momento, colocar em discussão os pedidos de impeachment contra Dilma Rousseff que vêm sendo apresentados pela oposição desde outubro e vetar projetos de interesse do governo, como a regulação da mídia. Daí a preocupação do Planalto com o favoritismo de Cunha. Não por acaso, na última semana o governo colocou sua tropa para trabalhar. Parlamentares foram procurados pelo governo para que votassem em Arlindo Chinaglia (PT-SP) em troca de cargos e de diálogo direto com o Planalto. Deputados confirmam nos bastidores as investidas, mas ninguém trata o tema como extraordinário, uma vez que trocar cargos por votos tornou-se prática recorrente em todos os partidos. A diferença é apenas o barulho feito por quem sai em desvantagem no jogo do fisiologismo. No caso, Cunha. Do outro lado da trincheira, Chinaglia afirma que o candidato peemedebista se lançou na disputa por questões meramente pessoais, numa tentativa de chantagear o governo, também de olho em cargos e mais poder. “É representante do poder econômico e dos próprios interesses”, alfinetou Chinaglia.
Enquanto os dois candidatos trocam farpas publicamente e viajam pelo País em jatinhos alugados especialmente para a busca de votos nos Estados, o deputado Julio Delgado (PSB-MG) se torna o fiel da balança. Para o candidato Chinaglia, a postura de Cunha durante o processo de campanha favorece sua aproximação com Delgado. Já o candidato do PMDB e seus aliados acreditam que, em caso de segundo turno, a oposição migraria para ele. Estrategicamente, essa decisão faria mais sentido, uma vez que a oposição sabe que Cunha poderia dar muito mais dor de cabeça ao Planalto do que Chinaglia. O consenso nos bastidores do Congresso é que dessa eleição pode depender o sucesso ou o fracasso do segundo mandato de Dilma Rousseff e o futuro do próprio PT.
Por que eles querem tanto essa cadeira. Em meio a suspeitas de armação, disputa pela presidência da Câmara assume ares nada republicanos. Em jogo, um orçamento de R$ 5 bilhões e um amplo poder de articulação política
Izabelle Torres
SEMANA DECISIVA
O deputado Eduardo Cunha (ao centro) permanece como favorito na
disputa, mas o Planalto trabalha fortemente nos bastidores para eleger o petista
Arlindo Chinaglia (primeiro à esq.). Júlio Delgado, apoiado pelo PSDB, tenta correr por fora
Nos últimos dias, a disputa pelo comando da Câmara assumiu contornos de baixaria. Em meio à refrega, o candidato favorito, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que enfrenta Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG), insinuou que o PT e o governo estariam por trás de uma armação destinada a evitar sua ascensão ao posto – o segundo na linha sucessória do presidente da República. A ideia seria envolvê-lo em denúncias e, assim, prejudicar sua campanha. Para sustentar sua tese, o peemedebista apresentou uma gravação contendo uma suposta conversa entre um aliado dele e o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, apontado pelas investigações da Operação Lava Jato como colaborador do doleiro Alberto Youssef. Na conversa, ele é citado. A voz pausada, a linguagem formal dos interlocutores e algumas incongruências no diálogo deram um ar de montagem à escuta feita pela PF, agora sob investigação. “Sou vítima de alopragem mais uma vez”, acusou.
Desde o início da disputa, o governo nunca escondeu sua insatisfação com a eleição à presidência da Casa do polêmico e instável Cunha – um político cujo lado em que se posiciona depende das conveniências políticas do momento. Desta vez, no entanto, a ser verdadeira a denúncia do parlamentar, a jogada teria ultrapassado os limites republicanos. O afã com que os candidatos se lançam na disputa – o próprio Cunha fez um périplo pelo País e uma série de jantares para cabalar votos – e a contundência com que os concorrentes agem para impedir os adversários de alcançar o posto estão diretamente relacionados ao poder que a ascensão à principal cadeira da Câmara pode proporcionar ao eleito. A cadeira de presidente permite ao seu ocupante a rara possibilidade de negociar e dar cartas nos rumos políticos do País. A eleição à presidência da Câmara representa a aquisição de um poder político instantâneo, de benesses incontáveis e a prerrogativa de administrar um orçamento de R$ 5,2 bilhões, valor previsto para 2015. Verba nada desprezível. O eleito também comandará 33 contratos com empresas terceirizadas, chefiará 16 mil servidores, terá direito a viver por dois anos na residência oficial da Câmara e de ter um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) à disposição, além de carros oficiais e seguranças exclusivos.
Também é relevante o poder de articulação que o presidente da Casa dispõe. Por exemplo, quem for eleito no dia 1º de fevereiro ganha automaticamente o direito a dar a palavra final sobre a pauta de votações. Pode até, se quiser, embora não seja o caso no momento, colocar em discussão os pedidos de impeachment contra Dilma Rousseff que vêm sendo apresentados pela oposição desde outubro e vetar projetos de interesse do governo, como a regulação da mídia. Daí a preocupação do Planalto com o favoritismo de Cunha. Não por acaso, na última semana o governo colocou sua tropa para trabalhar. Parlamentares foram procurados pelo governo para que votassem em Arlindo Chinaglia (PT-SP) em troca de cargos e de diálogo direto com o Planalto. Deputados confirmam nos bastidores as investidas, mas ninguém trata o tema como extraordinário, uma vez que trocar cargos por votos tornou-se prática recorrente em todos os partidos. A diferença é apenas o barulho feito por quem sai em desvantagem no jogo do fisiologismo. No caso, Cunha. Do outro lado da trincheira, Chinaglia afirma que o candidato peemedebista se lançou na disputa por questões meramente pessoais, numa tentativa de chantagear o governo, também de olho em cargos e mais poder. “É representante do poder econômico e dos próprios interesses”, alfinetou Chinaglia.
Enquanto os dois candidatos trocam farpas publicamente e viajam pelo País em jatinhos alugados especialmente para a busca de votos nos Estados, o deputado Julio Delgado (PSB-MG) se torna o fiel da balança. Para o candidato Chinaglia, a postura de Cunha durante o processo de campanha favorece sua aproximação com Delgado. Já o candidato do PMDB e seus aliados acreditam que, em caso de segundo turno, a oposição migraria para ele. Estrategicamente, essa decisão faria mais sentido, uma vez que a oposição sabe que Cunha poderia dar muito mais dor de cabeça ao Planalto do que Chinaglia. O consenso nos bastidores do Congresso é que dessa eleição pode depender o sucesso ou o fracasso do segundo mandato de Dilma Rousseff e o futuro do próprio PT.
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