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domingo, 4 de janeiro de 2015

O RIO GRANDE PARTIDO?



ZERO HORA 04 de janeiro de 2015 | N° 18032


ARTIGOS | FLÁVIO TAVARES


 

O novo ano trouxe novos governos no Estado e na República, mas será verdade? Ou tudo permanece igual e a novidade está em mostrar que nada muda e – com nomes novos ou velhos – repete-se o que já se conhece?

O “governo novo” que Dilma prometia na campanha eleitoral não difere do anterior no estilo nem na composição. Treze ministros permanecem em função e outro muda de posto, mas a mesmice repetitiva não é isto. Nada muda porque, de novo, o governo foi dividido em lotes e oferecido a 10 partidos, como imenso baú de roupa velha e inservível que se reparte com a vizinhança.

A base alugada, chamada de “base aliada”, continua a receber ministérios como moeda de troca, em pagamento (ou aluguel) de apoio no Congresso para aprovar projetos governamentais destinados apenas a abastecer ministérios ou empresas estatais transformadas em feudos dos próprios beneficiários. A corrupção na Petrobras (em que o PP de Paulo Maluf & Cia. comandou a corrupção multimilionária) mostra a que se destina o loteamento do governo!

Enganei-me, domingo passado, ao dizer que quatro novos ministros, todos do PMDB, estão envolvidos em processos ou investigações criminais. O número é maior. Além de Eliseu Padilha (Aviação Civil), Eduardo Braga (Minas e Energia), Kátia Abreu (Agricultura) e Helder Barbalho (Pesca), também o ministro dos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues, do PR, entra na lista: anos atrás foi condenado a devolver R$ 33 milhões desviados da empresa de transportes da cidade de São Paulo, que dirigiu na gestão do prefeito Paulo Maluf. E, em 2012, o Ministério Público o investigou por suspeita de “enriquecimento ilícito” quando vereador.

O ministro do Trabalho, Manoel Dias, do PDT, está sob investigação policial por suposto desvio de verbas quando secretário-geral do ministério, na gestão de Carlos Lupi, dirigente nacional do partido, como lembrou o deputado Brizola Neto, há pouco.

Até os próximos da presidente Dilma exteriorizam mal-estar por certas presenças ditadas pelo loteamento político. Na posse no Palácio do Planalto, a ministra Kátia Abreu não recebeu aplausos. E o novo ministro dos Esportes, George Hilton, do PRB, foi vaiado: era o eco de 2005, quando foi preso no aeroporto de Belo Horizonte carregando malas de dinheiro de um deputado e pastor de uma igreja pentecostal!

Em nosso Estado, José Ivo Sartori obteve límpida vitória eleitoral com um lema, ou estribilho, que sensibilizou os eleitores e fez acreditar em novo rumo para vencer a inércia e pasmaceira de décadas, originadas na politiquice sórdida.

“Meu partido é o Rio Grande”, repetia o candidato, dando a entender que abdicava dos conluios mesquinhos dos partidos e das pequenezes daqueles que atuam na política em busca de vantagens. Sartori não teve necessidade sequer de apresentar projetos de governo, como é hábito, pois governaria com o Rio Grande. E isto bastava, já que seu partido era o Rio Grande!

Eis, porém, que ele forma o governo a partir do PMDB, loteando secretarias e postos administrativos com gente de outros oito partidos, da mesma e idêntica forma como fora feito antes. Por exemplo: PDT e PSB, integrantes do governo Tarso, do PT, estão agora no governo Sartori. Diz a imprensa que o novo governador quer, até, incorporar à sua tribo outros três partidos, que, 60 dias atrás, apoiaram a tentativa de reeleição do próprio Tarso.

“Meu partido são os partidos”, poderá dizer agora o governador, plagiando o que dizia o candidato. Quando os partidos não representam os cidadãos e atuam como um tumor, como hoje, será esta a forma de aproximar o governo da sociedade, como ele pregou no discurso de posse?

Ou o Rio Grande está partido e não vemos?

FLÁVIO TAVARES Jornalista e escritor

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