VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

NA ONDA DO POPULISMO

EDITORIAL ZERO HORA 24/10/2011


Favorita absoluta nas eleições de ontem, a presidente argentina Cristina Kirchner deve ratificar, ao final da apuração oficial de votos, as estimativas de uma vitória expressiva. Se confirmada, ao que tudo indica, a reeleição para mais um mandato deverá ser explicada sobretudo pela recuperação da atividade econômica, por um discurso passional – por meio do qual a candidata, invariavelmente vestida de preto, evocou sempre a presença do marido Néstor Kirchner, falecido há um ano – e pela dificuldade de a oposição se unir em torno de uma proposta coerente. Um dos riscos é o de que, sem adversários com chance de vitória, a presidente tente se perpetuar no poder. Outro, o de que a ficção na economia argentina, mantida sobretudo graças à intensa propaganda oficial, seja substituída em algum momento por uma realidade que nem o governo terá mais como ocultar, nem os argentinos poderão fazer de conta que não percebem.

A primeira possibilidade certamente encontrará resistências, mesmo que a presidente do maior parceiro econômico do Brasil no âmbito do Mercosul alcance a maioria necessária no Congresso para se manter além de 2015. A segunda é mais factível, pois a expansão econômica segue num ritmo favorável devido, acima de tudo, a políticas claramente populistas, que facilitam a conquista de votos, mas fragilizam ainda mais as já combalidas finanças públicas. Graças ao uso da máquina pública, o governo do país vizinho dá algum tipo de ajuda a um entre cada quatro argentinos – proporção superior à do Brasil, que é de um entre cada cinco. O auxílio prevê desde “milanesa para todos”, até carne e tarifas com preços subsidiados, incluindo distribuição de eletroeletrônicos. O resultado, ainda oculto, é um déficit público crescente, câmbio defasado e inflação oficial inferior à percebida no bolso, com potencial para resultar em dificuldades sérias mais à frente.

A particularidade de a disputa presidencial argentina ter aprofundado o irrealismo na área econômica reforça até mesmo a ameaça de recrudescimento nas perseguições aos meios de comunicação independentes. Há dois anos, a Casa Rosada dispõe da chamada Lei de Meios para subjugar a mídia e estimular uma rede de canais de rádio e de televisão em mãos de amigos do poder ou mantidos por publicidade oficial. Se insistir em esconder uma realidade incômoda, poderá desencadear uma nova ofensiva para nacionalizar a Papel Prensa, fornecedora dos principais jornais locais, e, assim, sufocar críticas e fatos incômodos.

Diante das estreitas relações entre os dois países, o que ocorre na Argentina costuma ter implicações diretas no Brasil, tanto na área política quanto na econômica. Por isso, os resultados nas urnas são importantes não apenas para o futuro imediato dos argentinos, mas também para o dos brasileiros.

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