JORNAL DO COMERCIO 08/10/2014
Ana Cecília Romeu
Com décadas de democracia e nós, brasileiros, ainda somos tão leigos no que tange ao debate saudável: ouvir o outro, expor a opinião de forma respeitosa e dar contrapartida com embasamento. A argumentação é um exercício. E toda vez em que há um evento em âmbito nacional que deixa tudo mais visível, o que poderia ser apenas chuva fina torna-se temporal. Na iminência das eleições, o fenômeno da “desargumentação” retorna em seu estilo mais tradicional: quando não se tem embasamento, é oferecido todo o repertório de palavras de baixo calão. E isso não é demérito de uma corrente partidária. Nesse quesito, há união: o nível está baixo.
No seriado televisivo do controvertido médico Dr. House, um sujeito franco e sem papas na língua, há uma fala do personagem mais ou menos assim: “Se eu quisesse alguém concordando comigo, falaria sozinho”. É fundamental termos o contraponto, ouvirmos a opinião alheia mesmo que seja em sentido oposto ao que acreditamos. Não é correto deter o latifúndio da verdade, pois é pouco vasto e visível o terreno fértil, o que é mesmo factual.
Ainda há quem jogue todas suas frustrações pessoais em questões sociais e isso vem à tona quando há o debate, que de tão acalorado e sem sentido, acaba se tornando um “abate”. E nesse caso, é bom cortar o assunto. Até porque alguns gostam apenas de reclamar, nada contribuem mais que isso. Se ganhassem uma viagem com tudo pago a Paris, é provável que apontassem defeitos no avião, no hotel, no restaurante e ainda dissessem que Paris não é isso tudo. O ideal é verificarmos os fatos, seja na política, no futebol, ou em qualquer outro aspecto social do nosso país. Informarmo-nos em mais de uma fonte, trocar ideias, estabelecer contatos amigáveis, mesmo que tudo isso pareça tão difícil. Exercitar a luz própria parece um caminho sem erros e economiza a energia de todos, além de preservar amizades.
Publicitária e escritora
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