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terça-feira, 3 de maio de 2011

CASO BANRISUL - AUDIOS COMPROVAM A FRAUDE

OPERAÇÃO MERCARI. O que mostram os áudios da apuração no Banrisul. Para MP, telefonemas oferecem indícios contra suspeitos de participar de esquema de desvio - ADRIANA IRION, zero hora 03/05/2011

As engrenagens de um suposto esquema montado para desviar recursos do Banrisul estão contadas na investigação da Operação Mercari por meio, principalmente, de diálogos entre os próprios suspeitos. Interceptações telefônicas, feitas pelo Ministério Público Estadual e pela Polícia Federal, revelam como a suposta fraude ocorria, a partir do superfaturamento no marketing do banco.

Só a PF gravou e analisou em torno de 11 mil telefonemas e, em apenas um dos arquivos apreendidos, mais de 60 mil emails. O resultado do trabalho foi um raio-x das relações e dos negócios entre os principais investigados. Os suspeitos não deixaram de falar nem mesmo no dia em que a PF deflagrou a Mercari, em 2 de setembro passado.

Naquele dia, os grampos registraram o que as autoridades entenderam como tentativas de eliminar provas e evitar que testemunhas fossem localizadas pela polícia. Em um desses diálogos, Davi Antunes de Oliveira, apontado na denúncia do MP como controlador do pool de empresas terceirizadas que integravam o esquema, aparece conversando com a ex-mulher. A ligação ocorreu, segundo a denúncia, às 9h46min de 2 de setembro.

Davi liga para a ex-mulher para passar orientações sobre como evitar que a mãe dela, Maria Selma da Silva, preste informações à polícia. Selma teria emprestado o nome como dona de uma das empresas controladas por Davi.

Davi – A bicha que ia fazer umas denúncias contra nós, fez. Preciso que tu faça um favor: a tua mãe é dona de uma das empresas e tem que manter ela quieta em casa sem atender telefonema. Não está, viajou, entendeu!

M. – Ha ham.

Davi – Manda ela para a praia, tá, que o advogado é que vai responder para nós.

M. – Mas a mãe não tem que ir para a praia, ela não pode ir para a praia.

Davi – Querida, tão (PF) na minha casa, entraram na minha casa, tão nas empresas pegaram os documentos, vai ser escândalo em rede nacional.

Em conversa em julho passado, Davi também aparece supostamente preocupado com o fato de o Ministério Público de Contas (MP de Contas) ter pedido informações que poderiam revelar os supostos desvios ocorridos em ações do banco. A denúncia do MP cita que a “... reação de Davi diante do ofício do MP de Contas foi em tom de confissão, como expressa a ligação de 20/07/2010, às 18h55min, cuja transcrição parcial segue:

Davi – Agora, essa notícia que eu te dei ali na saída foi ruim, isso vai nos incomodar.

C. – Vai nada rapaz! Vai passar direto! Tu vai ver só.

Davi – Não, não, não.

C. – Meu santo é forte! Pode ficar tranquilo.

Davi – É, não, mas foi direto em nós o tiro, daí.

O banco demorou a responder o pedido de informações do MP de Contas. Tanto que, no dia em que a operação foi deflagrada, o assunto foi um dos temas de diálogo entre Walney Fehlberg, à época superintendente de marketing do Banrisul, e o então presidente do banco, Mateus Bandeira (que não foi alvo de investigação). Surpreendido com a ação de busca e apreensão em sua casa, Walney, enquanto agentes federais ainda estavam no local, lamentou a não entrega das informações às autoridades. O diálogo ocorreu às 8h16min de 2 de setembro. Walney diz a Bandeira que, com a demora na entrega dos dados pedidos, “os caras acham que tem coisa”. O presidente do banco, por sua vez, diz não acreditar que o atraso tenha relação com o mandado de prisão.

Antes da deflagração da operação, a PF detectou outros detalhes que comprovariam a atuação do grupo. Diálogo de 27 de agosto de 2010, às 18h57min, entre Davi e Walney está registrado na denúncia como “altamente comprobatório da existência da quadrilha”. Além de tratar do problema da testemunha (que delatou o suposto esquema) que os ameaçava, conversam sobre a eliminação de provas, especialmente com limpeza de computadores. Um trecho da conversa:

Davi – Mas nós temos que sentar, conversar pessoalmente algumas atitudes que a gente pode tomar pra deixar a coisa meio preparada pra um eventual ataque verdadeiro dele (da testemunha) entendeu?

Walney – Claro, tá certo. Concordo contigo. Ah! os teus computador aí tu ajeitou tudo (deletou) não tem nada aí dentro? Bota fora cara!

Suspeitos também teriam cogitado de pagar a um delegado para que os ajudasse a montar um procedimento de investigação contra a testemunha, conforme indicaria conversa Davi e Armando D’Elia Neto, que era diretor na DCS.

Davi – A ideia é o seguinte: sabe o delegado (fulano) o gordo aquele, que é meio poderosinho. Sentar com ele, contar nossa versão dos fatos e fazer a ocorrência pra ele chamar o cara pra ver que não vamos recuar, se o cara for fazer um estardalhaço maior vai começar por ali.

Armando – Só que aquele cara lá não é baratinho.

Surpreendidos com a investida da PF em 2 de setembro, alguns investigados seguiram falando ao celular durante a ação. Às 8h21min, Walney liga para Armando. Entre outras coisas, ele pede ajuda para contratar um advogado. Dezoito minutos depois, Walney liga para Davi.

Segundo a denúncia, Walney chama Davi de “presidente” para fazer com que os federais que estão na casa acreditem que está falando novamente com o presidente do Banrisul. Walney pede apoio para ter um advogado. Davi admite que o grupo está “com problemas, vai ser grave o troço” e tenta acalmar Walney:

Walney – Presidente é o seguinte, acharam dinheiro aqui na minha casa, que eu tinha dólares e tal.

Davi – Hum.

Walney – E eu vou ser preso.

Davi – Não, já tô sabendo. (...) É uma grande operação, tamos com problemas, vai ser grave o troço, entraram nas agências, pediram documentos, acharam muita coisa aí?

Walney – É tinha uns dólares, um dinheiro guardado.

Davi – Muita coisa?

Walney – É mais ou menos, uns duzentos mil, trezentos, em dólares

Davi – Bá, deu, vamos ter um problema grande realmente. (...)

Foi a partir de elementos como esses que o MP sustentou a denúncia contra 25 pessoas, acatada pela 6ª Vara Criminal no último dia 28.

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