EDITORIAL ZERO HORA 08/05/2011
Antecipando-se ao julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal, que provavelmente será realizado apenas no ano que vem, o Partido dos Trabalhadores aprovou no final do mês passado a refiliação do ex-tesoureiro Delúbio Soares, quase seis anos após a sua expulsão por gestão temerária. Em 2005, quando o escândalo estourou, ele foi afastado pelos próprios companheiros de agremiação por seu envolvimento direto no pagamento de propina a parlamentares aliados do governo. Agora, sob o pretexto de que ninguém pode ser condenado a pena perpétua no país, o diretório nacional do PT – com 60 votos favoráveis e 15 contrários – decidiu-se pela reabilitação do filiado proscrito.
O resgate de um militante excluído poderia ser considerado assunto de economia interna de uma agremiação política se por trás dessa decisão não estivesse a tese estapafúrdia de que o mensalão é uma ficção. Mesmo depois de ampla investigação e da denúncia que arrolou 38 pessoas como réus de um esquema delituoso de compra de votos, lideranças importantes do partido do governo continuam insistindo em que tudo não passou de invenção da imprensa. Mais do que isso: apostam na falta de memória da população para reabilitar os companheiros e, de certa forma, pressionar os ministros do Supremo por um julgamento condescendente.
Realmente, uma parcela do eleitorado parece ter esquecido o episódio ou também compartilha da tese conspiratória, pois pelo menos um integrante do grupo denunciado foi reeleito e hoje, inclusive, preside a mais importante comissão da Câmara Federal, a de Constituição e Justiça. Trata-se do deputado João Paulo Cunha, de São Paulo, que na época foi acusado de receber R$ 50 mil do empresário Marcos Valério, operador do esquema. O parlamentar foi acusado dos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato. Já Delúbio Soares, que assumiu a responsabilidade pelas irregularidades para eximir de culpa o partido e suas lideranças, é acusado de corrupção ativa e formação de quadrilha.
Esses enquadramentos não foram inventados pela imprensa. Fazem parte da denúncia apresentada pelo então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, e acatada pelo Supremo Tribunal Federal. Segundo o procurador, os réus faziam parte de uma organização criminosa dividida em três núcleos: o político-partidário, o publicitário e o financeiro. São tantos os detalhes constantes nas 40 mil páginas do processo, que fica difícil sustentar a tese da ficção.
Não é, portanto, apenas um problema do PT este retorno de Delúbio Soares à ribalta da vida política, com o propósito declarado de se candidatar à vereança brevemente. É, isto sim, um desafio à seriedade das instituições e também uma provocação às convicções éticas dos cidadãos. Ao perdoar um pecador que, no dizer de Renato Simões – integrante da corrente Militância Socialista e um dos 15 votos contrários à refiliação de Delúbio –, sequer se arrependeu de seu pecado, o partido que cativou parcela expressiva do eleitorado com a bandeira da honestidade afasta-se um pouco mais de seus antigos valores.
A questão proposta aos leitores foi a seguinte: Você concorda que a volta de Delúbio é um desafio à ética?
Concordo. Realmente é um afrontamento à nossa ética política e social, assim como colocar a culpa na imprensa pelos escândalos em que estão envolvidos. É vergonhoso. Magnus Cesar Ody – Parobé (RS)
Concordo plenamente, pois a ética e a impunidade neste país andam juntas e ninguém diz nada. Leis frouxas, bandidos mandando em tudo, saúde horrível, segurança zero, matança enorme no trânsito e fora dele, e o povo aceita tudo, como se fosse normal. Só Deus pode melhorar esse horror. João Carlos Leal – Júlio de Castilhos (RS)
O povo não tem memória curta. Quem tem memória curta é a direção do PT, pois retornar esse personagem ao seu quadro de filiados, para mim, é debochar da moralidade do Brasil e, principalmente, do PT. Cadê a ética? Comeram com farinha ou é falta de vergonha mesmo? Antonio Soares Neto Soares – Aracaju (SE)
A refiliação do senhor Delúbio, um dos responsáveis pelo mensalão, mostra que, assim como aquele deputado de Santa Cruz, o PT também se lixa pra opinião pública. Paulo Jobim – Porto Alegre
Acho perfeitamente normal. E o Brasil por acaso é ético? Ou isto não reflete exatamente o que é o Brasil como um todo? Nós, brasileiros, sempre queremos ser os mais “exxxperrrtochs”, os mais sabidos, gostamos de levar vantagem em tudo, adoramos furar uma fila, somos mais malandros no trânsito, no futebol, para enrolar o patrão no trabalho, sabemos na ponta da língua os nossos direitos (principalmente trabalhistas), mas os deveres... Políticos trocam de partido como trocamos de cueca e por aí vamos “nóis, braziuzão de fé”. Acho (desgraçadamente) normal a volta do Delúbio. Este, infelizmente, é o retrato do nosso país. Jorge Gustavo Hübler – São José (SC)
Eu discordo de todo tipo de imoralidade, independentemente de política, mas eu me preocupo num aspecto: por que o jornalismo da RBS não tem a mesma preocupação de divulgar e fazer enquete sobre as falcatruas do Detran e do Banrisul, ocorridas no governo do PSDB, aqui em nosso Estado, frente aos nossos olhos. Esses tipos tendenciosos também me preocupam. Antonio Carlos Menezes Reis Porto Alegre
A Sociedade organizada têm por dever exigir dos Poderes de Estado o foco da finalidade pública e a observância do interesse público na defesa dos direitos básicos e da qualidade da vida da população na construção de uma sociedade livre, justa e democrática. Para tanto, é necessário aprimorar as leis, cumprir os princípios administrativos, republicanos e democráticos, zelar pelas riquezas do país, garantir a ordem pública, fortalecer a justiça e consolidar a Paz Social no Brasil.
VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.
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