Silvio Teles, O GLOBO, 12/05/2011 às 16h59m
Não é difícil entender porque nunca, na história do Brasil se ouviu dizer que um grupo de deputados, empunhando faixas nas mãos, apitos e gritando frases de ordem, tenha marchado pelas ruas, em protesto por reajustes salariais ou por melhores condições de vida. Mesmo sendo servidores públicos, os senhores parlamentares nunca precisaram - e, do jeito que a coisa anda, nunca precisarão - de tal expediente.
É porque, meus amigos, protestar é coisa, por exemplo, de policial militar, que diariamente está nas ruas, enfrentando a criminalidade que é reflexo da malversação do dinheiro público, da falta de escolas e de educação de qualidade, da ineficiência estatal para fomentar a geração de ocupação e renda, da falta de urbanização e moradia dignas. É coisa de PM que se desdobra em escalas sub-humanas, sofrendo com a escancarada falta de efetivo; ou que termina seu serviço e sequer precisa sair do local da operação, pois mora nas grotas, vielas, no seio da criminalidade violenta; que vive em permanente estado de receio, com medo de descobrirem seu ofício e ser morto, ali, mesmo.
Protesto, desses com apitaço geral, é coisa para policial civil, que é obrigado a investigar os crimes de mando que são ordenados ninguém sabe por quem - se alguém sabe, é melhor ficar calado: esse povo é vingativo; que precisam desvendar o porquê de tantos jovens estarem se matando, o porquê de tantos assaltos estarem acontecendo, o porquê de tantos crimes; que se imbuem na caçada de bandidos e malfeitores que não temem nada e nada tem a perder, fazendo da bala sua principal saudação.
Fazer greve é coisa de professor, que enfrenta, durante anos a fio, por um salário de fome, salas de aulas com alunos cada vez mais hostis, filhos de famílias cada vez mais desestruturadas e pouco informadas; que trabalham em escolas sem a menor estrutura para abrigar alunos, com infiltrações, tetos prestes a desabar, sem material didático adequado, com déficit de professores e de profissionais; que precisam compensar, com habilidade, a fome dos alunos que não tem merenda ou dos que a tem de péssima qualidade, por conta da propina que algum político safado está botando no bolso.
Marchar pelas ruas é coisa do pessoal da saúde, que tem de transformar água em bálsamo para dar conta da imensa quantidade de pacientes que necessitam de tratamento; que se expõem, diariamente, a diversos tipos de contágio para, num ato que se aproxima da piedade, tentar salvar quantos podem; que dobram plantões e serviços para remediarem a ausência de profissionais suficientes, necessários ao atendimento daqueles que não podem esperar; que adoecem por não poderem fazer muita coisa com as condições que tem.
Repito, reivindicar é coisa de quem trabalha. Para os outros, que, em vez de trabalho, trazem em seu histórico uma lista imensa de crimes e desvios milionários de dinheiro, é mais fácil, mais prático e menos cansativo fazer uma assembléia entre si e decidir dobrar seus vencimentos - que já não são pequenos, considerado e efetivo benefício que trazem à sociedade - pouco se importando com a realidade do Estado, dos outros servidores públicos e, principalmente, da população que os elegeu.
A Sociedade organizada têm por dever exigir dos Poderes de Estado o foco da finalidade pública e a observância do interesse público na defesa dos direitos básicos e da qualidade da vida da população na construção de uma sociedade livre, justa e democrática. Para tanto, é necessário aprimorar as leis, cumprir os princípios administrativos, republicanos e democráticos, zelar pelas riquezas do país, garantir a ordem pública, fortalecer a justiça e consolidar a Paz Social no Brasil.
VOTO ZERO significa não votar em fichas-sujas; omissos; corruptos; corruptores; farristas com dinheiro público; demagogos; dissimulados; ímprobos; gazeteiros; submissos às lideranças; vendedores de votos; corporativistas; nepotistas; benevolentes com as ilicitudes; condescendentes com a bandidagem; promotores da insegurança jurídica e coniventes com o descalabro da justiça criminal, que desvalorizam os policiais, aceitam a morosidade da justiça, criam leis permissivas; enfraquecem as leis e a justiça, traem seus eleitores; não representam o povo e se lixam para a população.
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