PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA
Os protestos nas ruas eram contra tudo o que está aí, mas a presidente Dilma Rousseff acabou pagando o pato pelos próprios equívocos e pelos erros do Legislativo, do Judiciário, dos prefeitos, dos governadores, do antecessor, dos partidos e da polícia. Três semanas de protestos diários fizeram a popularidade de Dilma despencar 25 pontos percentuais, mas quem mais se beneficiou do desgaste não foi Aécio Neves (PSDB) nem Eduardo Campos (PSB), que no imaginário popular são políticos tradicionais.
Quem mais cresceu foi Marina Silva, ex-ministra e ex-senadora, que passa uma imagem de alternativa e está tentando criar um partido chamado Rede Sustentabilidade, e o não-candidato Joaquim Barbosa, ministro do Supremo Tribunal Federal. Marina batizou sua nova agremiação de “Rede” para atrair os descontentes com a atuação dos partidos. Na pesquisa do Datafolha, aparece em segundo lugar em todos os cenários e chega a superar Dilma entre os jovens na Região Sudeste. Nos cenários em que seu nome aparece, Joaquim Barbosa encosta em Marina e em Aécio, num sinal de que os eleitores associam sua imagem ao combate à corrupção, uma das principais demandas das ruas.
Dilma ainda aparece em primeiro lugar, mas seus índices são bem inferiores aos do ex-presidente Lula, que, espertamente, submergiu quando os protestos tomaram conta das ruas. Dilma tentou oferecer respostas rápidas, mas se atrapalhou com o que era de sua competência e com o que depende do Congresso. Propôs uma Constituinte que foi abatida antes de completar 24 horas. Restou o plebiscito sobre a reforma política, que tem amplo apoio dos entrevistados pelo Datafolha.
Essa diabolização da presidente da República já era perceptível na pesquisa que o Instituto Methodus realizou entre os participantes do último protesto em Porto Alegre, na quinta-feira passada. Em resposta à pergunta “quem é o principal responsável pelos atuais problemas do Brasil?”, 59,7% responderam que era “a presidenta”. Era uma pergunta que permitia respostas múltiplas, e 47,5% apontaram o governador, 44% o prefeito, 35% os deputados, 34,7% os senadores, 30% os vereadores e 19,9% a sociedade civil. Traduzindo, sobrou para todo mundo, mas Dilma ficou no papel de para-raio para onde converge a ira nacional.
Punição para corruptos e corruptores
A Federasul encaminha hoje a suas filiadas uma nota com a posição da diretoria sobre os protestos que tomam conta do país. A entidade reforça sua posição em favor da livre iniciativa, da ética, da liberdade e da transparência. A nota defende uma gestão pública eficiente, a reforma política e a punição de corruptos e corruptores.
ALIÁS
Um dos dados mais sintomáticos do descrédito dos políticos é o índice de eleitores dispostos a votar nulo ou em branco na pesquisa do Datafolha: saltou de 12% no início de junho para 24% agora.
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